Jamil Chade

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Reportagem

Trump explora 'masculinidade' e frustração do homem branco para obter votos

Uma recente pesquisa assustou o campo democrata nos EUA: 63% dos homens brancos sem nível universitário votarão em Donald Trump na eleição que ocorre em dez dias. Segundo analistas e levantamentos feitos por organismos americanos, a chave para entender esse êxito do republicano está, em parte, na sua capacidade de transformar o que seria uma frustração do homem branco americano em votos.

O movimento liderado por Trump vem tentando mobilizar um segmento da população que vive uma encruzilhada diante da transformação do debate público sobre gênero, independência financeira das mulheres e a ofensiva antirracismo. Esse mesmo grupo atravessa o que é apresentado como uma "ansiedade financeira" diante de um modelo econômico incapaz de reduzir as desigualdades sociais.

Para Richard Reeves, presidente do American Institute for Boys and Men, esses americanos que viram seu status social ruir sentem que estão sendo mais ouvidos pelos republicanos, em uma crise que é em parte de percepção e, em parte, de perda de poder.

Na era pós-MeToo, a conversa sobre a masculinidade nos EUA é também política e, na avaliação do instituto, esses homens brancos se sentem "desabrigados".

Reeves não é um reacionário. Seu livro publicado sobre o tema, em 2022, foi a leitura de verão de Barack Obama. No começo de 2023, Melinda Gates destinou US$ 20 milhões para as pesquisas de seu instituto.

Mas a campanha republicana sabe que essa crise pode ser instrumentalizada e foi justamente usar o exemplo de Trump como um espelho para essa população. Depois de ser humilhado, agora ele volta ao topo do poder. Sem desculpas.

Não por acaso, a hipermasculinidade faz parte de cada um dos comícios de Trump, sempre iniciado por um rock pesado e um ex-lutador branco que rasga sua camisa no palco, antes de dar lugar ao candidato. No imaginário coletivo, esse segmento da população se sente acolhido.

Kamala aposta em comerciais em apostas online e jogos

Kamala Harris também sabe que esses votos podem ser fundamentais, principalmente nos estados onde a eleição não está decidida e em um processo que será definido nos últimos dias.

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Se Kamala tem uma vantagem de 12 pontos percentuais entre as mulheres, Trump tem uma vantagem ainda maior entre os homens: 55% contra 41%.

Não por acaso, ela escolheu como seu vice um senador que insiste em seu passado como militar e como treinador de futebol americano.

A democrata também tem participado de entrevistas com apresentadores que simbolizam grupos de homens brancos. Se não bastasse, o grupo "White Dudes for Harris" (Caras brancos por Harris) ainda investiu US$ 10 milhões em publicidade pela campanha contra Trump.

Em um dos comerciais, o grupo é explícito sobre o que passa na mente desse segmento dos homens. "Ei, caras brancos! Acho que estamos cansados de ouvir sobre o quanto somos ruins toda vez que estamos online e como somos o problema", diz.

Mas o grupo alerta que o país não pode "sentar e deixar a multidão do Maga intimidar outros brancos para que votem em uma ideologia odiosa e divisiva, porque entendemos que com o Maga todos perdem". Maga se refere ao movimento de Trump: Make America Great Again.

Trump questiona masculinidade de eleitores de Kamala

A criação do grupo chegou a ser alvo de ataques por parte do republicano. Em um evento religioso na semana passada, Trump zombou da existência da iniciativa dos homens brancos por Kamala.

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"Há um grupo chamado 'White Dudes for Harris', mas não estou nem um pouco preocupado com eles, porque suas esposas e os amantes de suas esposas estão todos votando em mim", disse Trump.

Tim Fullerton, um organizador do White Dudes for Harris, respondeu ao ataque do ex-presidente. "Sou um dos organizadores do White Dudes for Harris. Minha esposa preferiria comer vidro por um mês a votar nesse cara", publicou Fullerton nas redes sociais.

Kamala ainda intensificou sua ofensiva para atrair homens, em plataformas de videogame e de apostas online, com uma ampla maioria de audiência masculina. Ela ainda comprou horários nos intervalos de jogos da NFL (liga profissional de futebol americano), do futebol americano universitário e na MLB (liga profissional de beisebol) na esperança de convencer esses homens que seu programa também olha para suas necessidades.

Em um dos comerciais, o astro do basquete Magic Johnson compara os planos econômicos de Kamala e Trump para mostrar que a democrata traria vantagens reais para as classes mais desfavorecidas. Sobre o republicano, o ex-jogador resume: "Ele é um empresário fracassado".

Trump rebateu com uma ofensiva a essa audiência nos últimos dias. Mas, no lugar de falar sobre economia, intensificou sua guerra cultural. Sua acusação, enganosa, é de que Kamala prioriza a agenda transexual sobre a vida dos restantes dos americanos e que ela estaria usando impostos para pagar por mudanças de sexo em pessoas detidas por assassinatos.

A estratégia de Trump é simples: se apresentar como aquele que protege a masculinidade de um segmento da população abalada por múltiplas crises.

Reportagem

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