Joildo Santos

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Opinião

O papel da tecnologia na inclusão digital das favelas

Nas favelas, a tecnologia não é apenas um acessório; é uma ferramenta de transformação. Enquanto muitos ainda veem a periferia como um lugar de carências, nós, que vivemos e atuamos nesses territórios, sabemos que ela é um celeiro de potencialidades. A inclusão digital, mais do que um direito, é um caminho para reduzir desigualdades e abrir portas para oportunidades reais.

Mas, para que a tecnologia cumpra esse papel, é preciso ir além do simples acesso à internet. É necessário criar ecossistemas que integrem infraestrutura, capacitação e propósito. Nas favelas, onde a criatividade é uma moeda de sobrevivência, a tecnologia pode ser a alavanca para mudanças profundas.

Ainda hoje, milhões de pessoas nas periferias brasileiras não têm acesso à internet de qualidade ou dispositivos adequados. Enquanto o sinal 5G chega aos bairros nobres, muitas favelas ainda dependem de conexões lentas e instáveis. Isso não é apenas um problema de comunicação; é uma barreira para educação, trabalho e empreendedorismo.

Um fenômeno interessante é o surgimento de provedores locais de internet, alguns até com autorização da Anatel, que tentam suprir a demanda por conexão de qualidade. Esses provedores, muitas vezes criados por moradores das próprias comunidades, entendem as necessidades locais e oferecem serviços adaptados à realidade das favelas. No entanto, eles enfrentam desafios enormes, como a concorrência desleal com as grandes operadoras e dificuldades logísticas para instalar e manter a infraestrutura necessária.

Projetos como os telecentros comunitários e as antenas de internet gratuita também são exemplos de como a infraestrutura pode ser democratizada. A tecnologia, quando bem aplicada, é um equalizador social.

Ter acesso à tecnologia é importante, mas não basta. É preciso saber usá-la de forma estratégica. Nas favelas, muitos jovens já estão mostrando que a tecnologia pode ser uma ferramenta de emancipação. Projetos e iniciativas de organizações sociais oferecem cursos de programação, tecnologia e design gráfico, estão formando uma nova geração de profissionais qualificados.

Esses jovens não são apenas consumidores de tecnologia; eles são criadores. Aprender a programar, por exemplo, abre portas para empregos bem remunerados e para o empreendedorismo. E o impacto vai além: cada jovem capacitado se torna um multiplicador, levando conhecimento para sua família e comunidade.

A tecnologia nas favelas não pode ser apenas uma cópia do que já existe em outros lugares. Ela precisa ser adaptada à realidade local, com soluções que resolvam problemas reais. Isso significa ouvir as demandas da comunidade e criar ferramentas que façam sentido para o dia a dia das pessoas.

Um exemplo são os provedores locais de internet, que, apesar das dificuldades, mostram que é possível oferecer serviços de qualidade mesmo em áreas de difícil acesso. Essas iniciativas não apenas conectam as pessoas, mas também geram empregos e movimentam a economia local.

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A inclusão digital nas favelas não é um sonho distante; é uma realidade que já está em construção. Mas para que ela avance, é preciso que empresas, governos e organizações se unam às lideranças locais. Juntos, podemos criar soluções que não apenas conectem, mas também empoderem.

A tecnologia não é um fim em si mesma; é um meio para transformar vidas. Nas favelas, ela já está mostrando seu potencial. Cabe a nós garantir que esse potencial seja ampliado, para que todos, sem exceção, possam fazer parte da revolução digital.

Nas favelas, a tecnologia não é apenas uma ferramenta; é uma ponte para o futuro. E nós estamos construindo essa ponte, tijolo por tijolo, byte por byte.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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