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Josias de Souza

Votação do fundo eleitoral vira lavagem de roupa suja

Waldemir Barreto/Agência Senado
Imagem: Waldemir Barreto/Agência Senado

Colunista do UOL

18/12/2019 04h06

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"PT e Lula são ladrões do dinheiro público", vociferou da tribuna o líder do PSL no Senado, Major Olímpio. "A família Bolsonaro é um clã de bandidos que tomou de assalto o Palácio do Planalto", deu o troco o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta.

Ouviu-se de tudo na sessão noturna desta terça-feira no Congresso, exceto o tratamento cerimonioso de "excelência". Nesses tempos de polarização, a etiqueta parlamentar não combina com os desaforos de botequim que soam no plenário.

Virou lavagem de roupa suja a votação que fixou em R$ 2 bilhões o valor do fundo que financiará com verbas públicas as eleições municipais de 2020. Uma emenda do Partido Novo encostou a sessão no botequim.

O deputado Marcel Van Hattem, líder do Novo, propôs reduzir o fundo para R$ 765 milhões. A deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT, estrilou: "O Partido Novo, que vem ditar regras aqui, falando de moralidade, é financiado por milionários".

Gleisi fez uma defesa enfática do financiamento público das campanhas. No comando de uma legenda cujos governos compraram apoio legislativo com o mensalão e o petrolão, Gleisi declarou-se preocupada com "a autonomia desse Parlamento".

Favorável à redução do valor do fundo, Major Oíimpio achou que Gleisi confundiu memória fraca com consciência limpa. E atacou: "Quando era dinheiro privado, vocês roubaram. Agora, querem meter a mão no dinheiro da população".

"Vocês queriam R$ 3,8 bilhões", prosseguiu Major Olímpio, referindo-se a uma cifra que chegou a ser apoiada por 13 partidos. "Na hora que a população bateu o pé, desceu para R$ 2 bilhões. Não vão levar na mão grande."

Comandava a sessão o presidente do Senado e do Congresso, Davi Alcolumbre, do DEM. Ele deixou a sujeira escorrer. O circo pegou fogo no instante em que Major Olimpio afirmou o seguinte: "O presidente Jair Bolsonaro fez 57 milhões de votos sem usar recursos públicos."

Hostilizado por petistas e simpatizantes de Lula, o Major não se deu por achado. Acusou o PT de operar uma "máquina podre". Cutucado, o líder petista Paulo Pimenta arrastou a dinastia Bolsonaro para o tanque.

Pimenta lembrou que foi o próprio Bolsonaro quem incluiu no Orçamento da União para 2020 um fundo eleitoral de R$ 2 bilhões. E declarou, sem rodeios, que o policial militar aposentado Fabrício Queiroz "é o caixa da família Bolsonaro".

Amigo de três décadas de Bolsonaro, Queiroz foi assessor e faz-tudo do senador Flávio Bolsonaro, o Zero Um, à época em que ele era deputado estadual no Rio. Hoje, Queiroz e Flávio coabitam o mesmo processo criminal no Rio de Janeiro.

"Se quisermos saber de fato como e por que os Bolsonaro não precisam de dinheiro público para fazer campanha, basta que a gente possa investigar o esquema criminoso que alimenta este clã de bandidos", declarou Pimenta.

O líder petista chegou mesmo a lançar um repto: "Quero que me processem por calúnia, digam que é mentira". Ofereceu material para o processo: "Estou dizendo que o Queiroz era o caixa da família Bolsonaro. Recebia dinheiro na sua conta de familiares de milicianos, inclusive aqueles que estão sendo investigados pelo assassinato de Marielle Franco".

Pimenta prosseguiu: "Estou dizendo que o Queiroz pagava as contas pessoais da família do Bolsonaro, inclusive da senhora Michelle (primeira-dama). Vamos abrir as contas do Queiroz. E vamos mostrar de onde vocês tiravam dinheiro para fazer política, para eleger o Bolsonaro, os filhos e muitos arautos da moralidade".