Bolsonaro administra sua própria herança maldita
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Jair Bolsonaro tornou-se um governante peculiar. Inicia o segundo ano de sua Presidência sob os efeitos da herança maldita que construiu no primeiro. Nos 12 meses inaugurais, plantou as sementes do afrouxamento na fiscalização ambiental. E colheu índices amargos de queimadas e desmatamento.
Agora, o presidente anuncia a criação de um Conselho da Amazônia e uma Força Nacional Ambiental (coisa copiada do petismo). Tudo sob a coordenação do vice-presidente Hamilton Mourão. Como no caso do sapo de Guimarães Rosa, Bolsonaro não ensaia um salto ambiental por boniteza, mas por precisão.
O Brasil começou a receber a visita dos cobradores. Grandes fundos de investimento insinuam que deixarão de aplicar dinheiro no país por conta da política antiambiental do governo. O ministro Paulo Guedes (Economia) sente o cheiro de queimado no Fórum Econômico Mundial, apelidado neste ano de "Davos Verde".
Em 2019, Bolsonaro extinguiu um par de conselhos ambientais, avalizou o esvaziamento do aparato fiscalizatório, mimou desmatadores e ofendeu países que aplicavam bilhões em projetos ambientais no Brasil. Reposiciona-se em cena brandindo projetos rabiscados em cima do joelho. Exibe a disposição de um mestre-cuca que se julga capaz de desfritar um ovo.
Bolsonaro se move num instante em que a economia começa a respirar, mas permanece no leito. O desemprego continua nas nuvens. Eleito com 55,1% dos votos válidos, o inquilino do Planalto amarga índices de popularidade que rodam na casa dos 30%.
O capitão sempre poderá atribuir a ruína econômica à herança maldita. Mas não tem como transferir para o petismo as crises que rebaixam seus índices de aprovação e retardam o crescimento da economia. Na área ambiental, as coisas vão mal. Se piorarem, perdem todos.
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