Gestão Bolsonaro tem fila de espera de demissões
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Os ares da Índia fizeram bem a Jair Bolsonaro. De volta ao Brasil, o presidente mandou demitir, com a rapidez de um raio, o número dois da Casa Civil, Vicente Santini, que viajara ao exterior nas asas da Força Aérea Brasileira. O presidente tachou de "imoral" o uso de jato da FAB em deslocamentos que poderiam ter sido feitos em voos de carreira. Esse presidente de moralidade implacável se parece muito com o candidato da campanha eleitoral de 2018. Seria ótimo se o pavio curto virasse regra, não uma exceção.
O que incomoda na atual administração é a percepção que o governo não tem propriamente um princípio. O que Bolsonaro exibe é, no máximo, um ou outro tique moral. O mesmo presidente que manda demitir o auxiliar que confunde verba pública com dinheiro grátis, convive graciosamente com meia dúzia de ministros investigados, denunciados e até um condenado. Ele também age para proteger um filho encrencado com a lei.
Se o caso do demitido Vicente Santini revela alguma coisa é que o absurdo, quando não é enfrentado, pode ganhar uma doce, uma persuasiva, uma admirável naturalidade. O personagem esteve no Fórum Econômico Mundial de Davos. Depois, integrou-se à comitiva de Jair Bolsonaro, na Índia. Revelou uma intolerância a saguão de aeroporto incompatível com o comportamento de ministros que viajaram em aviões de carreira. Entre eles Paulo Guedes (Economia) e Tereza Cristina (Agricultura).
Pilhado, Santini mandou divulgar uma nota na qual a Casa Civil informou que estava tudo normal, que o jato da FAB fora requisitado dentro da lei. Confundiu-se desfaçatez com normalidade. Trata-se de um velho hábito de pessoas que se julgam no direito de usufruir do delicioso privilégio de gastar o dinheiro alheio. A demissão foi uma boa resposta. O que se espera é que a água de Brasília não dissolva em Bolsonaro os efeitos positivos provocados pela atmosfera da Índia. Há no governo uma fila de novas demissões esperando para acontecer.
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