Covid-19 infectou futuro eleitoral de Bolsonaro-22
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Afrontando a praxe, Jair Bolsonaro declarou-se candidato à reeleição dois meses depois de tomar posse. Se tiver realizações para exibir em 2022, será justo e bom que se candidate. Resta saber o que seu governo fará para ornamentar a vitrine.
Antes do vírus, o futuro de Bolsonaro era feito de hipotéticas reformas e da perspectiva de recuperação da economia. Depois do vírus, não há no horizonte senão trauma social e ruína econômica. Nada será como antes.
O Covid-19 infectou o projeto político Bolsonaro-22. O Datafolha revela que 69% dos brasileiros preveem que amargarão uma diminuição dos rendimentos nos próximos meses. No final de março, esse índice era de 57%.
O país vive a síndrome do que está por vir. E o pessimismo tende a crescer na proporção direta da evolução do número de diagnósticos positivos de coronavírus e de cadáveres.
No final de 2019, a estratégia de Bolsonaro passava pelo bolso do brasileiro. Estimava-se que a reforma da Previdência, os juros mixurucas e a inflação sob controle reativariam os investimentos.
Sobreveio a lombada do pibinho de 1,1%. Num instante em que o Ministério da Economia recalibrava suas previsões de 2020 para ilusórios 2%, a pandemia se impôs como uma espécie de sorvo de gigante.
Hoje, o governo estima que o socorro a pessoas e empresas vulneráveis custará neste ano mais do que a economia que seria propiciada pela reforma da Previdência em dez anos. A única certeza disponível é que não há maior equívoco do que ter certeza sobre o futuro.
As previsões para o PIB deste ano oscilam entre um tombo de até 2% e um mergulho às profundezas de 5%. Em qualquer hipótese, o governo terá de se reinventar. Essa reinvenção exigiria que Bolsonaro se virasse do avesso.
No momento, Bolsonaro dedica-se a exercer o papel de estorvo do seu governo e a desconstruir rivais presumidos. Entre eles os governadores João Doria e Wilson Wietzel, mais bem postos do que o presidente na crise.
Bolsonaro não governa as adversidades, é governado por elas. Deveria dedicar-se não à desconstrução de adversários, mas à reconstrução de si mesmo. Num regime presidencialista, a cara do presidente tende a virar o semblante da crise.
O ideal seria que Bolsonaro projetasse uma imagem de serenidade. Não consegue. Se não abdicar ao posto de líder da oposição a si mesmo, o capitão pode ver a candidatura ser substituída por uma interrogação: Será que chega a 2022?
No momento, resta a Bolsonaro um consolo. O governador João Doria, principal nome da oposição, deu para trocar afagos com Lula no Twitter. Quer dizer: o eleitor que quiser prestigiar a alternância de poder talvez tenha dificuldade para encontrar material.
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