Aras não denunciará Bolsonaro, avalia o Planalto
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Não há em todo o Palácio do Planalto uma única voz dissonante. Todos, do presidente da República aos membros do seu staff, avaliam que o procurador-geral da República Augusto Aras não denunciará Jair Bolsonaro no inquérito sobre ingerência política na Polícia Federal.
A solidez da convicção contrasta com o estágio embrionário da apuração. Na prática, as investigações começam apenas nesta semana, com a inquirição das testemunhas e a análise da gravação da reunião ministerial de 22 de abril, citada por Moro em seu depoimento à Polícia Federal.
Antecipando-se às críticas, um auxiliar de Bolsonaro disse ao repórter: "Vocês da imprensa se esforçam para grudar no doutor Aras a pecha de engavetador. Neste caso, verão que não há prova de interferência do presidente na PF. Não se pode acusar alguém apenas com base na suposição de que cometeria crimes."
Nessa versão, Bolsonaro dispõe de amparo legal para trocar o comando da PF. E não seria juridicamente aceitável acusá-lo de tramar a interferência política em inquéritos com base apenas em "ilações". Para que a tese fique em pé, será preciso incluir no cesto das "ilações" a troca de mensagens entre Bolsonaro e Moro.
Pelo WhatsApp, Bolsonaro encaminhou ao então ministro da Justiça notícia sobre inquérito que corre no Supremo. "PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas", anotava o título. E Bolsonaro: "Mais um motivo para a troca." Referia-se à substituição do então diretor-geral da PF Maurício Valeixo, que foi efetivada.
A poltrona de chefe da Procuradoria já foi ocupada por um engavetador-geral, Geraldo Brindeiro, e por um denunciador-geral, Rodrigo Janot. O primeiro desprezaria as mensagens. O segundo enxergaria nelas indício de malfeito passível de averiguação.
Confirmando-se as expectativas do Planalto, Augusto Aras terá de fundamentar muito bem sua eventual ordem de arquivamento. Sob pena de ficar mal e deixar pior ainda a instituição que representa.
De resto, a tranquilidade do Planalto faz supor: 1) Que os generais intimados a depor —Braga Netto (Casa Civil), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Augusto Heleno (GSI)— empurrarão para dentro do inquérito declarações que isentam Bolsonaro; 2) Que a fita da reunião citada por Moro, embora registre declarações constrangedoras, não contém evidências ou indícios de crime.
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