Prefeito de Manaus: Bolsonaro é 'assassino indireto'
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Arthur Virgílio Neto, prefeito de Manaus, está indignado com Jair Bolsonaro. Chamou-o de "assassino indireto" por "incitar as pessoas a saírem às ruas, violando o isolamento social, melhor arma contra a covid-19."
Além de dar à pregação de Bolsonaro um conteúdo homicida, Virgílio verteu sobre ele uma quantidade amazônica de adjetivos, um mais depreciativo do que o outro: "Palhaço", "covarde", "cretino", "nojento", "analfabeto", "imbecil", "primata"...
A pandemia tornou Virgílio um crítico ácido de Bolsonaro. A acidez evoluiu para a indignação depois que o prefeito soube que o presidente o ofendeu entre quatro paredes. Pior: tripudiou sobre a memória do seu pai, Artur Virgílio Filho (1921-1987).
Bolsonaro referiu-se a Virgílio na reunião ministerial de 22 de abril, cuja gravação é peça central do inquérito sobre a interferência política do presidente na Polícia Federal. O comentário veio à luz em notícia veiculada por Matheus Leitão, no site de Veja.
"Palhaço"
Eis a frase atribuída a Bolsonaro: "Aquele vagabundo do prefeito de Manaus, que está abrindo cova coletiva para enterrar gente e aumentar o índice da Covid." E o complemento: "Vocês sabem filho de quem ele é, né?"
A prefeitura de Manaus teve de realizar sepultamentos coletivos por imposição do coronavírus, que subverteu a rotina funerária da cidade, colapsando-a. "Para mim, Bolsonaro não passa de um palhaço", abespinhou-se Virgílio.
O que elevou a animosidade do estágio de "mera troca de chumbo" para o nível de "questão pessoal" foi a menção ao pai do prefeito. Ex-senador, Artur Virgílio Filho foi líder do governo de João Goulart, deposto pelo golpe militar em 1º de abril de 1964.
Em fevereiro de 1969, o pai do prefeito teve o mandato cassado. Tinha 48 anos. Foi enquadrado no AI-5, ato institucional da ditadura que é cultuado por Bolsonaro e seus filhos. Suspenderam-lhe os direitos políticos por dez anos.
"Nojento"
No final de 1979, sob o governo do general João Figueiredo, Virgílio Filho foi beneficiado pela anistia. Tinha, então, 58 anos. Morreria oito anos depois, aos 66, de câncer.
"Bolsonaro é nojento", afirmou Virgílio. "Não tem o direito de mexer com a memória do meu pai. Não chega aos sapatos dele. Não pode se meter com um homem honrado, que não é da sua laia, chegada a rachadinhas."
"Analfabeto, Bolsonaro não conhece história", declarou o prefeito. "Só decorou a lista de quem foi cassado ou perdeu a vida, e os nomes dos torturadores, que idolatra. No mais, se perguntar quem descobriu o Brasil, ele não saberá dizer."
Virgílio contou que sua indignação é compartilhada por seus irmãos e seus filhos. Ironicamente, a mulher do prefeito, Elisabeth Valeiko Ribeiro, votou em Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2018.
"Primata"
"Ela votou contra a minha vontade", disse Virgílio, filiado ao PSDB. Ele contou que Elisabeth redige uma carta a ser endereçada a Bolsonaro. Nesta sexta-feira, a primeira-dama de Manaus anotou meia dúzia de palavras nas redes sociais.
"Não poderia deixar de expressar meu repúdio por esse cidadão que escolhi para ser presidente, mesmo contra a opinião de meu marido", escreveu Elisabeth. "Ele fez uma campanha defendendo os valores familiares e, hoje, é o maior incentivador do ódio e desrespeito."
Para Virgílio, Bolsonaro apequena a imagem do Brasil no exterior. "Ele é ridicularizado. Trata-se de pessoa primária, um primata. Estamos sendo governados por um cretino de dicionário médico, responsável por milhares de mortes."
Ex-parlamentar, Virgílio já foi deputado e senador. Conviveu com Bolsonaro na Câmara. "Tenho prova pessoal de que ele não vale nada", declarou. Refere-se a um episódio em que saiu em defesa do ex-deputado petista Jose Genoino.
"Covarde"
Ex-guerrilheiro, Genoino foi capturado por soldados do Exército no Araguaia. Segundo Virgílio, Bolsonaro declarou na tribuna da Câmara que Genoino entregara companheiros de armas sob tortura.
"Eu fui ao microfone e pedi que retirassem aquela excrescência dos anais da Câmara. Não se admite que ninguém faça elogios à tortura num Parlamento democrático."
Virgílio prosseguiu: "Eu me virei para o Bolsonaro e disse: 'Esse deputado não tem cara de que aguentaria muita tortura. Como bom covarde, ele ficou quietinho, pianinho. Noutra ocasião, me pediu um aparte. Eu disse: "Só dou apartes a Vossa Excelência em dia de sexta-feira, depois do expediente. Ele não disse nada."
Ao final de uma semana em que vieram à luz, por força de uma ação judicial, os exames que atestaram que Bolsonaro não foi contagiado pelo coronavírus, Virgílio declarou que o presidente carrega uma moléstia enterrada dentro de si.
"Cretino"
"Ele tem olho de peixe morto, uma cara assustada, típica de pessoa que não sabe ficar quieta. Não sei que outras moléstias esse sujeito tem além da mental. Mas há algo no seu coração perverso, capaz de tocar em feridas que estão sepultadas."
Virgílio realçou que a anistia representou um perdão recíproco. "Não esquecemos, mas perdoamos", afirmou o prefeito, antes de recordar uma amizade inusitada que cultivou com o coronel Jarbas Passarinho, nos seus tempos de senador.
"Fiz uma grande amizade com o senador Passarinho, que foi signatário do AI-5, o ato que levou à cassação do meu pai. Passarinho morreu sob a minha tristeza. Eu era mais ligado a ele do que ao Paulo Borssard. Bolsonaro, no entanto, é incapaz de esboçar sentimentos elevados. É um cretino."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.