Witzel virou ex-governador no exercício do cargo
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Dizer que a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro abriu processo de impeachment contra Wilson Witzel é muito pouco para traduzir o drama do governador fluminense. Na prática, a Casa legislativa da rachadinha converteu Witzel numa espécie de ex-governador ainda no exercício do cargo.
Pelo regimento, caberia ao presidente do Legislativo estadual, o petista André Ceciliano, inaugurar o processo. Entretanto, o comandante da Assembleia articulou o compartilhamento da decisão com o plenário. Realizou uma votação simbólica. Dos 70 deputados estaduais, 69 estavam presentes.
Nenhum deputado se opôs à deflagração do processo. Nem mesmo os membros da bancada do PSC, partido de Witzel, se animaram a defendê-lo. Com isso, cravou-se no peito do inquilino do Palácio das Laranjeiras uma unanimidade dura de roer. A solidão de Witzel e o cheiro de enxofre deram ao impedimento uma aparência de jogo jogado.
Para reverter a goleada, Witzel teria de terceirizar a escrivaninha, a caneta e a alma as deputados estaduais. E continuaria sendo um ex-governador à espera da conclusão do mandato. Talvez seja menos pior ir para casa mais cedo e cuidar da defesa no processo criminal por corrupção.
Até bem pouco, o ex-juiz Witzel guerreava com Jair Bolsonaro e imaginava que o destino lhe reservava uma candidatura à Presidência. Hoje, às voltas com a fatalidade de um inquérito por corrupção que inclui até sua mulher, o hipotético governador busca uma improvável reconciliação com Bolsonaro e tenta demonstrar que não merece acabar num presídio.
De duas, uma: ou o eleitor fluminense tem o dedo podre ou o Rio foi condenado pelos deuses da roubalheira a amargar uma urucubaca perpétua. Dos quatro antecessores de Witzel, três já passaram pela cadeia —Garotinho, Rosinha e Pezão— e outro, Sergio Cabral, continua em cana.
Também passaram pelo sistema carcerário ou estão em prisão domiciliar um par de ex-presidentes Assembleia Legislativa, uma penca de ex-deputados e deputados estaduais, além de cinco conselheiros do Tribunal de Contas do Estado. Vive-se uma septicemia em meio à pandemia. Eleito como cura, Witzel virou parte da infecção.
Não há mais pecados originais nesse Rio capturado por uma organização criminosa. O que há são novas erupções de velhos esquemas. Estabeleceu-se no estado uma rotina de trem fantasma. Nela, um espanto se esvazia quando é substituído pelo assombro seguinte.
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