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Josias de Souza

Forças Armadas, política, besteiras e o desastre

4.jul.2019 - General Luiz Eduardo Ramos abraça o presidente Jair Bolsonaro ao tomar posse como ministro da Secretaria de Governo - MATEUS BONOMI/AGIF/ESTADÃO CONTEÚDO
4.jul.2019 - General Luiz Eduardo Ramos abraça o presidente Jair Bolsonaro ao tomar posse como ministro da Secretaria de Governo Imagem: MATEUS BONOMI/AGIF/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

16/07/2020 19h26

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O general Luiz Eduardo Ramos, ministro-chefe da Secretaria de Governo e coordenador político da Presidência, antecipou em um ano e meio a sua passagem do serviço ativo para a reserva remunerada das Forças Armadas. Parece pouca coisa, mas essa antecipação da aposentadoria tem enorme significado político. Para entender a importância do gesto, é preciso atrasar o relógio até o dia 20 de março de 1964.

O marechal Castello Branco, então chefe do Estado-Maior do Exército, assinou neste dia uma circular endereçada aos seus comandados. Anotou no texto que "os meios militares nacionais e permanentes não são propriamente para defender programas de governo, muito menos a sua propaganda, mas para garantir os Poderes constitucionais, o seu funcionamento e a aplicação da lei". Acrescentou: "Não sendo milícia, as Forças Armadas não são armas para empreendimentos antidemocráticos".

Em 2018, numa conjuntura em que uma legião de eleitores queria evitar a volta do PT ao poder, 57,7 milhões de brasileiros enviaram para o Planalto Jair Bolsonaro, um capitão que deixou o Exército por indisciplina, e Hamilton Mourão, um general da reserva que perdeu o posto de comandante militar da região Sul por ter feito um discurso político durante o governo Dilma Rousseff. Essa dupla cercou-se de generais. Formou-se no Planalto a "ala militar".

De repente, os generais começaram a frequentar o noticiário articulando, opinando, participando de manifestações, dando caneladas no Congresso e no Judiciário. Como as Forças Armadas não se confundem com escola de samba, tornou-se essencial deixar claro que os generais que comandam escrivaninhas como alegorias do governo não falam pelos quartéis.

Com sua aposentadoria, Luiz Ramos se iguala aos outros generais do Planalto, que já haviam passado para a reserva. Isso atenua o problema. Mas não resolve totalmente. As Forças Armadas já corriam o risco de se associar àquilo que o general Santos Cruz, demitido no ano passado num embate com a chamada ala ideológica da escola de samba bolsonarista, chamava de "show de besteiras" do governo Bolsonaro.

Hoje, além das besteiras, há a desastrosa gestão da crise do coronavírus, que Bolsonaro executa por meio de Eduardo Pazuello, um general da ativa improvisado como ministro da Saúde. Tornou-se vital demonstrar que os quarteis não se confundem com o governo. Bolsonaro passa. As Forças Armadas ficam.