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Josias de Souza

Desejos de Guedes e travas de Bolsonaro produziram uma reforma Frankenstein

Gabriela Biló/Estadão Conteúdo
Imagem: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

04/09/2020 05h13

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Após um ano de embromação, chegou ao Congresso a reforma administrativa do governo. Ela é feita de uma combinação de pedaços dos desejos de Paulo Guedes com as travas impostas por Jair Bolsonaro. A mistura produziu uma espécie de reforma Frankenstein.

Elimina alguns privilégios, restringe a estabilidade funcional e estimula a produtividade. Mas não mexe com as castas mais privilegiadas do funcionalismo: juízes e procuradores. Não toca nos militares, a corporação de estimação de Bolsonaro. Não atinge os parlamentares.

No processo de junção das vontades de Guedes com as restrições de Bolsonaro, o governo tomou decisões que deixariam de cabelo em pé até Mary Shelley, autora do romance estrelado por Frankenstein.

O governo expôs os princípios da reforma numa proposta de emenda constitucional. Mas não divulgou os projetos de lei necessários para retirar as regas gerais do papel.

No geral, o governo deseja reduzir salários. Mas adia a proposta que expõe os cortes de remunerações. Deseja manter a estabilidade em certas áreas. Mas sonega o projeto com os nomes das corporações.

O Frankenstein do governo não assusta os atuais servidores, excluídos da reforma a contragosto de Guedes. Significa dizer que não haverá ganhos instantâneos. A economia virá no longo prazo, à medida que os funcionários mais antigos forem vestindo o pijama.

Os otimistas avaliam que o monstro pode virar galã a qualquer momento. Os pessimistas preferem adiar as conclusões para depois da apresentação dos projetos de regulamentação que o Planalto promete enviar e das emendas que os parlamentares não abrem de apresentar.