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Josias de Souza

REPORTAGEM

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Planalto revê fiasco de Pazuello no Senado e tenta evitar um replay na CPI

Mateus Bonomi/Agif/Estadão Conteúdo
Imagem: Mateus Bonomi/Agif/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

25/04/2021 04h28

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Cercado de mimos por Bolsonaro, Eduardo Pazuello irá à CPI da Covid como um depoente teleguiado. O Planalto tenta evitar que o ex-ministro da Saúde repita o mau desempenho que exibiu em 11 de fevereiro, quando esteve no plenário do Senado para dar explicações sobre o enfrentamento da pandemia. Sua atuação foi considerada pífia. Avalia-se que foi graças a esse fiasco que a CPI saiu da gaveta.

Revista no Planalto, a sessão em que Pazuello foi espremido pelos senadores expõe a fragilidade das respostas do então ministro sobre temas que serão incontornáveis na CPI: escassez de vacinas, tratamento precoce com cloroquina e o colapso no suprimento de oxigênio para os hospitais de Manaus. Tenta-se agora ensaiar o general.

Além de lapidar respostas precárias, deseja-se que Pazuello despeje em cima da bancada da CPI dados sobre repasses de verbas federais para os estados. A diversificação de alvos, com a inclusão de governadores e prefeitos no rol de investigados, é uma obsessão de Bolsonaro.

Além de expor a dificuldade de Pazuello para fornecer explicações convincentes, a sessão de 11 de fevereiro exibiu a impaciência de senadores que agora integram a CPI. Provável presidente da comissão parlamentar de inquérito, o senador amazonense Omar Aziz (PSD) soou ácido.

"Está caindo um boeing por dia no meu estado", disse Aziz para Pazuello. "Morrem 200 pessoas por dia. Se cair um boeing hoje numa república pequena, em qualquer lugar do mundo, isso vira manchete em qualquer jornal do país. Isso está acontecendo diariamente no estado do Amazonas." O general não deu um pio.

Pazuello é protagonista de inquérito aberto pelo Ministério Público Federal sobre o colapso na rede hospitalar de Manaus, onde infectados pela Covid morreram por falta de oxigênio. O general disse aos senadores que "em momento algum" foi avisado previamente sobre "falta de oxigênio, colapso de oxigênio ou previsão de falta de oxigênio". Essa versão é mentirosa.

Outro senador amazonense, Eduardo Braga (MDB), agora membro titular da CPI, impacientou-se com Pazuello: "Senhor ministro, não está tudo bem, não está tudo certo. E não foi feito tudo que se poderia ter feito. Lá no início de dezembro, eu já dizia a Vossa Excelência que nós iríamos enfrentar uma onda no Amazonas muito grave. Sugeri, inclusive, que assumisse uma unidade hospitalar no Amazonas diante da comprovação da ineficiência do governo do meu estado quando da primeira onda".

Inquirido sobre as cifras que o governo aplicou na produção de cloroquina, Pazuello embromou. Indagado a respeito da distribuição de medicamentos ineficazes no tratamento contra a Covid, o general mentiu novamente: "O Ministério da Saúde não faz protocolo para uso de medicamentos. Não faz. Nós orientamos o atendimento imediato. O atendimento precoce. E é o médico que faz o diagnóstico."

Ecoando Bolsonaro, Pazuello defendeu inúmeras vezes o tratamento precoce com medicamentos sem serventia. Há vídeos disponíveis na rede. Um deles exibe a participação de Pazuello numa das lives semanais do presidente.

Bolsonaro esforça-se para parecer atencioso com Pazuello. Nos últimos dias, levou-o a tiracolo em duas viagens: para Goianópolis, no interior de Goiás, e para Manaus. Na capital amazonense, o capitão enalteceu o desempenho do general à frente da pasta da Saúde. Faltou explicar por que colocou a "eficiência" no olho da rua.

O presidente não está preocupado com Pazuello, mas consigo mesmo. No ano passado, após cumprir a ordem de Bolsonaro para anular protocolo de intenção de compra de 46 milhões de doses de Coronavac, o general deixou-se filmar ao lado do presidente pronunciando a frase que o perseguirá por toda a vida: "Um manda e o outro obedece." Bolsonaro deseja que Pazuello se mantenha fiel também na CPI.

Se exagerar na fidelidade, o ex-ministro pode se enroscar. Com poderes para requisitar documentos, a CPI a ser instalada na terça-feira aprovará um plano de trabalho que valoriza a obtenção do papelório oficial. Se disser algo que não pode comprovar apenas para blindar Bolsonaro, Pazuello pode se complicar, pois a ideia dos senadores é arrastá-lo para o banco da CPI mais de uma vez. Na primeira inquirição, falará como testemunha. Nas demais, como investigado.