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Josias de Souza

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

CPI quer ouvir infectologista que pediu afastamento relâmpago na Saúde

Pedro França/Agência Senado
Imagem: Pedro França/Agência Senado

Colunista do UOL

23/05/2021 05h29

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O governo Bolsonaro continua fornecendo material para a CPI da Covid. A comissão deve convocar para depor a infectologista Luana Araújo. O motivo da provável convocação é constrangedor. Dona de um currículo de vitrine, a doutora foi recrutada pelo ministro Marcelo Queiroga (Saúde) para chefiar a estratégica Secretaria de Enfrentamento à Covid. Deixou o cargo dez dias depois de assumir. Suspeita-se que a causa do afastamento tenha sido o excesso de qualificação.

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) já protocolou o pedido de convocação de Luana Araújo. Ouvi-la tornou-se essencial para elucidar o mistério de sua saída. Em nota, o Ministério da Saúde informou que está à procura de uma nova Luana, alguém "com perfil profissional semelhante: técnico e baseado em evidências científicas." Em entrevista, Queiroga ecoou a nota: "A doutora Luana é uma excelente médica e nós vamos buscar um perfil semelhante ao dela para trabalhar aqui conosco."

Se a doutora é excelente na sua versão original, por que trocá-la por uma cópia?, eis a interrogação que flutua na atmosfera seca de Brasília. Luana absteve-se de informar o que a levou a procurar a porta de saída. Ela escreveu no Instagram: "Saio desta experiência como entrei: pela porta da frente, com a consciência e o coração tranquilos, ciente de que neste curto período entreguei o melhor da minha capacidade de acordo com os princípios que tenho como profissional especialista na área: ética, cientificidade, agilidade, eficiência, empatia e assistência".

Há dez dias, quando Luana aceitou integrar a equipe de Queiroga, antigos comentários que ela fizera nas redes sociais viraram notícia instantaneamente. Na contramão do que sempre pregou Bolsonaro, Luana criticou o uso de medicamentos como cloroquina e ivermectina no tratamento da Covid. Chamou a prescrição do coquetel anticientífico de "neocurandeirismo." Ou "iluminismo às avessas." Bateu duro: "Brasil na vanguarda da estupidez mundial".

Perguntou-se a Queiroga se o Planalto o pressionou para se livrar da "excelente médica". E ele: "Não tem pressão do Palácio do Planalto." Os repórteres insistiram. O ministro perdeu a linha. Em timbre ríspido, declarou: "Já falei acerca da doutora Luana. Esse é um assunto que nós consideramos encerrado. Não vou mais abordar esse assunto." Engano. Enquanto não esclarecer o porquê da saída de Luana, o ministro será perseguido pelo tema.