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Josias de Souza

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Paulo Guedes passa a operar no modo eleitoral

Colunista do UOL

24/05/2021 22h46

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O ministro Paulo Guedes, da Economia, já opera no modo 2022. Em entrevista à Folha, ele sinalizou a pretensão de fortalecer o projeto reeleitoral de Bolsonaro. Declarou que seu ministério jogou na defesa nos três primeiros anos do governo. E anunciou: "Agora, vamos para o ataque". Numa animação que não orna com a ruína fiscal do governo, Guedes lançou propostas ao vento: um Bolsa Família vitaminado, Bônus de Inclusão Produtiva, Bônus de Incentivo à Qualificação... Mencionou a criação de um fundo social alimentado com recursos de privatizações. "Vamos devolver as estatais ao povo brasileiro", alardeou.

Paulo Guedes fala em privatizações desde a campanha de 2018. No gogó, o ministro prometera arrecadar R$ 1 trilhão com a venda de estatais. Não vendeu nenhuma empresa. Agora, aperfeiçoa a ficção, programando gastar um dinheiro que ainda não entrou no caixa. E não explica como faria para financiar gastos sociais perenes com a receita finita da eventual venda de estatais. Pródigo nas promessas sobre o futuro, Guedes reconhece que o houve demora na renovação do socorro aos trabalhadores informais e a empresas porque o governo não previa a segunda onda do vírus. Pode estar reincidindo no erro agora, ao não prever a terceira onda.

Adepto da tese segundo a qual não haverá volta à normalidade econômica sem vacinação em massa da população, Guedes afirmou que não faltou dinheiro para vacinas. Absteve-se de explicar o que leva o país a conviver com a escassez de vacinas. O ministro admitiu que sua agenda liberal encolheu. Repetiu que "o grau de adesão do presidente à agenda econômica" caiu de 99% para 65%. Referiu-se a reformas prioritárias em timbre pouco animador. "A reforma administrativa está um empurra-empurra, mas nós vamos seguir. Reforma tributária, vamos tentar fatiada."

Paulo Guedes faz lembrar uma personagem de ficção criada pelo escritor gaúcho Josué Guimarães —uma mulher que diminuía diariamente de tamanho. Os familiares se esforçavam para que a mulher não percebesse o próprio encolhimento. Rebaixavam os móveis. Serravam os pés de mesas e cadeiras. A diferença é que Bolsonaro rebaixa a estatura do ministro da Economia sem precisar adaptar a mobília. Mantida a migração da pauta econômica para a agenda eleitoral, o prestígio do antigo superministro logo caberá numa caíxa de fósforos.