Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Bolsonaro encosta a anarquia militar na eleição de 2022
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O Brasil está transtornado com a conjuntura em que se misturam quase 500 mil mortos por covid e mais de 14 milhões de desempregados. Um país submetido a encrencas desse tamanho não precisa de novas crises. Mas Bolsonaro acaba de criar um problema novo: a anarquia militar. Ao poupar o general Eduardo Pazuello de uma punição por participar de ato político ao lado de Bolsonaro, o comandante do Exército Paulo Sérgio Nogueira rasgou os regulamentos militares e subverteu o mais valioso princípio de uma força armada: o princípio da autoridade.
Há uma semana, Pazuello reconhecia em privado que cometera um erro ao participar de um comício com Bolsonaro, o Alto Comando do Exército cobrava um enquadramento e o vice-presidente Hamilton Mourão dava a punição como favas contadas. "A regra tem que ser aplicada para evitar que a anarquia se instaure dentro das Forças", dizia o general Mourão. A regra previa punição que poderia variar de mera advertência a prisão. Não foi aplicada. Pior: Pazuello foi premiado com um cargo na Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência. Escancararam-se as portas para a anarquia.
Essa anarquia tem ingredientes radioativos. O primeiro deles é o acréscimo de um general da ativa na tropa de militares que comandam escrivaninhas no Planalto. O segundo é a ponte que Bolsonaro constrói ligando o gabinete presidencial aos quartéis. Ele cultiva a simpatia de sargento e suboficiais. O terceiro é o apoio de policiais militares que agridem e atiram balas de borracha contra opositores que expressam antipatia por Bolsonaro nas ruas.
O quarto ingrediente é o aviso de Bolsonaro de que não aceitará o resultado da disputa presidencial de 2022 se uma eventual derrota for contabilizada em votos não impressos. O arquivamento do processo disciplinar contra Pazuello adicionou a essa mistura tóxica um quinto elemento.
Até aqui, Bolsonaro dizia "meu Exército" e todo mundo achava que ele se referia a uma ficção. Agora, o Exército informa que pertence mesmo ao presidente, não ao Estado brasileiro. Bolsonaro encostou na disputa presidencial de 2022 a anarquia militar.
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