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Josias de Souza

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Maia cavou seu próprio caminho para o inferno

Metro 1
Imagem: Metro 1

Colunista do UOL

15/06/2021 02h52

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O número mais bonito da novela da existência política de Rodrigo Maia foi aquele que o deputado iria executar no momento em que foi eliminado do espetáculo pelo excesso de ambição. Há cinco meses, era estrela ascendente do DEM. Estava fadado a ser um tecelão relevante de 2022. Hoje, expulso da legenda, revela-se capaz de tudo, exceto de reconhecer que cavou seu próprio caminho para o inferno.

Quando ainda cavalgava o seu segundo mandato como presidente da Câmara, Maia assegurou aos correligionários que não disputaria a re-reeleição. Era lorota. Embora soubesse que o terceiro mandato consecutivo no comando da Câmara era um flerte com a ilegalidade, optou por tentar a sorte junto com Davi Alcolumbre, que tramava se reeleger no Senado. Sonharam com uma autorização do Supremo Tribunal Federal.

Para ganhar tempo, Maia colocou quatro aliados para brigar pela sua cadeira: Baleia Rossi (MDB-SP), Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Marcelo Ramos (PL-AM) e Elmar Nascimento (DEM-BA). Embromou todos eles. Até que perceberam que faziam papel de bobos. Impedido pelo Supremo de concorrer ao terceiro mandato, Maia optou por apoiar Baleia. Que virou candidato favorito a fazer do líder do centrão Arthur Lira o novo presidente da Câmara no primeiro turno.

Aborrecidos com Maia, Marcelo Ramos e Elmar Nascimento migraram para o bloco de Lira. Ramos tornou-se o primeiro vice-presidente da Câmara em aliança com Lira. Elmar, líder do DEM, abriu uma dissidência que retirou o chão de Maia no seu próprio partido.

Suprema ironia: o centrão, massa disforme de legendas que Maia usou para estabilizar sua Presidência e enquadrar os arroubos plebiscitários de Bolsonaro, foi comprado pelo Planalto com cargos e verbas para surrá-lo. Maia pode se levantar do tombo. Mas tende a prolongar sua estadia no inferno se não enxergar suas próprias culpas no espelho.

Nessa hora, chamar ACM Neto de torquemada desleal e sem caráter talvez ajude a desopilar o fígado. Mas não substitui a percepção de que, em política, quem não ambiciona o poder erra o alvo. Quem só ambiciona o poder, como fez Rodrigo Maia, vira o alvo.