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Josias de Souza

REPORTAGEM

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CPI cancelou a homenagem às vítimas da Covid

 Pedro França/Agência Senado
Imagem: Pedro França/Agência Senado

Colunista do UOL

09/10/2021 04h15

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A caminho do encerramento, a CPI da Covid cancelou a homenagem que faria às vítimas da doença em 19 de outubro, dia em que será lido o parecer com as conclusões de Renan Calheiros, relator da comissão.

O próprio Renan anunciou o cancelamento numa postagem no Twitter. Apresentou duas razões: 1) Precisa se "dedicar mais ao relatório"; 2) Deseja "evitar narrativas políticas e fake news." Não é bem assim.

Em verdade, a homenagem foi cancelada porque integrantes do G7, o grupo majoritário da CPI, torceram o nariz para a ideia de Renan. Avaliam que a "espetacularização" tisnaria a seriedade que a tragédia requer.

Além da reação contrária de membros da CPI, os planos idealizados por Renan e sua equipe desandaram. Desejava-se, por exemplo, que Déa Lúcia, mãe do ator Paulo Gustavo, que morreu de Covid, discursasse na cerimônia. Consultada, ela refugou convite.

Imaginou-se que o cantor Ivan Lins entoaria durante o ato a música "Aos Nossos Filhos", de sua autoria. Os versos da canção ornam com a tragédia. Diz a primeira estrofe: "Perdoem a cara amarrada / Perdoem a falta de abraço / Perdoem a falta de espaço / Os dias eram assim."

Entretanto, Ivan Lins realiza uma turnê na Europa. E seu filho, João Lins, atribuiu a um "mal-entendido" a notícia de que o cantor se apresentaria em Brasília: "Acho que colocaram o carro na frente dos bois. Houve um convite, houve uma conversa a respeito. O Ivan é a favor da CPI, mas isso não foi confirmado", disse ele.

"Esse convite existiu, mas o Ivan não confirmou que ia", acrescentou João Lins. "Então, acho que se precipitaram, eu não cheguei a conversar com ninguém, por exemplo. Isso seria sem passar por mim. A intenção tem, tem um vídeo lindo com a música 'Aos Nossos Filhos', o Ivan adorou."

Cogitou-se exibir o vídeo de Ivan Lins. Mas o bolsonarismo, numa concertação desconcertante, torpedeou a iniciativa nas redes sociais. O movimento surtiu os efeitos desejados. Renan deu meia-volta. "Os responsáveis pelas mais de 600 mil mortes serão punidos pela justiça dos homens e de Deus", conformou-se o relator.