Arrependimento de Arthur Lira não deve ser levado ao pé da letra
Jamais confie num arrependimento de Arthur Lira. Quem se arrepende como o imperador da Câmara se desarrepende com a mesma velocidade. Na mesma entrevista em que admitiu ter errado ao chamar Alexandre Padilha de "incompetente", Lira reiterou que a articulação política do governo não funciona.
O Lira que se exibiu para as câmeras do programa de Pedro Bial é bem diferente do Lira que se reuniu a portas fechadas com Lula, no domingo. O Lira da ribalta insinua que o coordenador político do Planalto é como incapaz de todo. O Lira das sombras revela-se capaz de tudo.
Embora esteja descendo a ladeira de uma presidência em fim de ciclo, Lira ainda é o dono da pauta do plenário da Câmara. Pode infernizar o segundo ano de um governo que mantém um olho na inflação dos alimentos e outro na curva descendente das pesquisas. Minoritário no Legislativo, Lula requenta o café de Lira. Os dois celebram o enésimo armistício.
De repente, as condições climáticas da Câmara viraram. A meteorologia passou a prever a desativação de bombas. Sumiu também a trovoada de CPIs. Isso tem preço. Num esforço para resgatar a pauta econômica do seu governo, Lula cede uma vez mais à chantagem. A ocultação do código de barras de Lira é parte do preço.
Em café da manhã com jornalistas, Lula tratou seu encontro privado com Lira como "uma conversa entre dois seres humanos". O presidente avalia que não deve nada a ninguém. Muito menos explicações. "Não sou obrigado a falar sobre a conversa que tive com Lira".
Na campanha, Lula prometeu que colocaria a tropa que migrou do mensalão e do petrolão para o orçamento secreto para marchar numa cadência republicana. Não seria fácil. Mas Lula, infelizmente, nem tentou.
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