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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Depois de mostrar o dedo médio em Nova York, Queiroga solta língua em Roma

 Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Imagem: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Colunista do UOL

01/11/2021 05h34

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O cardiologista Marcelo Queiroga ainda não notou. Mas tornou-se portador de uma grave comorbidade. Seu cérebro começa a funcionar na hora em que ele acorda e não para até o instante em que ele se encontra com o chefe. Ao lado de Bolsonaro, as ramificações do corpo do ministro da Saúde ganham vida própria, desconectando-se dos impulsos emitidos pelos neurônios. A moléstia manifesta-se de forma mais aguda no exterior.

A língua de Queiroga desplugou-se das sinapses em Roma. Tomou distância da medicina, aventurando-se no ramo da magia. Tirou um gambá da cartola ao testemunhar um encontro casual de Bolsonaro, à margem da reunião do G20, com o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), o etíope Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Numa alusão ao relatório final da CPI da Covid, Bolsonaro disse a Tedros Adhanom que se tornou o "único chefe de Estado no mundo investigado, acusado de genocida". Em timbre de resignação, o capitão arrematou: "É a política". E a língua de Queiroga, às gargalhadas: "Eu também. Vou com ele para Haia. Passear lá em Haia".

A cidade holandesa de Haia é onde fica o Tribunal Penal Internacional. Bolsonaro será acionado pela CPI nessa Corte sob a acusação de praticar crime contra a humanidade. O genocídio contra populações indígenas foi excluído do rol de nove imputações atribuídas ao presidente pela Comissão Parlamentar de Inquérito. Queiroga foi indiciado em dois crimes que não estão sujeitos à jurisdição do tribunal internacional: epidemia com resultado morte e prevaricação.

Há um mês, o dedo médio de Queiroga havia fugido ao controle do cérebro. Membro da comitiva de Bolsonaro à ONU, o doutor tornou-se coadjuvante de uma caravana de horrores.

Em pé, Queiroga mastigou com o presidente, na calçada, a pizza que o Tinhoso amassou. Sentado, aplaudiu nas Nações Unidas o discurso em que o capitão receitou o seu kit-cloroquina para o planeta. Depois, o dedo do palavrão ergueu-se na mão de Queiroga para insultar um grupo de manifestantes antibolsonaristas.

Infectados pelo bolsovírus, o dedo e a língua de Queiroga são manifestações de uma patologia preexistente. Coisa bastante conhecida: o puxa-saquismo. Provoca a perda da percepção do que é certo ou errado. No caso de Queiroga, os surtos são retratos de uma inconsciência conscientemente ostentada.