Josias de Souza

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Opinião

Governo perde a oportunidade de reformar as Forças Armadas

Oficialmente, o Ministério da Defesa sustenta que o golpe tentado por Bolsonaro fracassou porque não obteve o apoio institucional da tropa. A alegação faz sentido, pois os ex-comandantes Freire Gomes, do Exército, e Baptista Júnior, da Aeronáutica, se negaram a avalizar o decreto que anularia a vitória de Lula.

Nos bastidores, porém, a cúpula militar admite que a adesão ao movimento golpista daquilo que Bolsonaro chamava de "minhas Forças Armadas", incluindo o então comandante da Marinha, Almir Garnier, impôs profundo e incontornável desgaste às fardas.

A prisão do general Braga Netto, no último sábado, elevou a conta do Exército, a mais chamuscada das três Forças. Sem contar o próprio Bolsonaro, um capitão que deixou o Exército pela porta lateral por indisciplina, a investigação da Polícia Federal fisgou, por enquanto, 28 militares. Isso corresponde a 70% dos 40 indiciados. Além do quatro estrelas Braga Netto, há entre os que amargaram prisões preventivas o general três estrelas Mário Fernandes, detido desde o mês passado.

No momento, dão as cartas no Exército os generais Tomás Paiva, comandante da Força, e Richard Nunes, chefe do Estado-Maior. Ambos já deram demonstrações do apreço que nutrem pela democracia. Mas as credenciais legalistas da dupla não bastam para fazer frente ao enorme passado que as Forças Armadas têm pela frente. A restauração da imagem exige providências práticas que nem sequer foram esboçadas.

Está claro como água de bica que a mentalidade golpista dos oficiais indiciados pela PF sobreviveu à redemocratização do país graças ao ensino defeituoso de escolas e academias militares que estacionaram na década de 60 do século passado. Nada foi feito para atualizar os currículos.

Para complicar, o governo Lula se absteve de iniciar a sério um debate sobre que tipo de Forças Armadas o Brasil precisa ter. Na contramão da história, o Planalto agiu para retirar de uma proposta elaborada na pasta da Defesa um artigo que restringia a ocupação de cargos civis por militares. Pior: os operadores de Lula no Congresso evitam suar o paletó pela aprovação da versão lipoaspirada do projeto, que envia para a reserva os militares derrotados em eleições.

A despeito de tudo o que ocorreu e do que ainda está por vir, o governo insiste em tratar os militares como frágeis bibelôs. Demora a notar que a oportunidade é mais ou menos como o nascer do sol. Quer dorme demais perde a melhor parte.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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