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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Cara de pau de Bolsonaro é a única área livre de devastação no Brasil

Colunista do UOL

19/11/2021 09h12

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A divulgação do índice anual de desmatamento, calculado pelo Inpe, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, consolida o sucesso das duas prioridades de Bolsonaro para o setor do Meio Ambiente: a devastação consentida da Amazônia e a institucionalização da mentira como política ambiental. Entre agosto de 2020 e julho deste ano, foi devastada na região amazônica uma área equivalente a quase nove vezes a cidade de São Paulo: 13.235 quilômetros quadrados. É a maior área desmatada em 15 anos. Não se via coisa parecida desde 2006.

O governo soube da má notícia em 27 de outubro, quatro dias antes do início da COP26. Mas escondeu deliberadamente os números. Manuseando dados provisórios, autoridades brasileiras mentiram na cúpula climática da ONU, exibindo para o mundo um Brasil paralelo, zeloso com o Meio Ambiente e com índice declinante de desmatamento. Compreende-se melhor o porquê de Bolsonaro ter fugido da cúpula do clima, na Escócia. Na última segunda-feira, de passagem por Dubai, o presidente disse que a floresta amazônica está "exatamente igual quando [o Brasil] foi descoberto, no ano de 1500."

Segundo ministro do Meio Ambiente da Era Bolsonaro, Joaquim Leite disse, sem corar a face, que só agora tomou conhecimento dos números que estavam disponíveis há mais de 20 dias. Afirmou que a resposta do governo aos criminosos ambientais terá de ser mais "contundente". Do seu lado, o ministro da Justiça, Anderson Torres, anunciou que "o Estado brasileiro vai subir com força total para a Amazônia." O mundo observa o lero-lero oficial com olhos de São Tomé às avessas —quer ver para não crer.

O governo Bolsonaro existe há 34 meses. Durante quase metade desse período —16 meses— as Forças Armadas foram mobilizadas para combater o desmatamento. Sob o comando do vice-presidente Hamilton Mourão, a militarização ambiental custou ao contribuinte R$ 550 milhões. E o desmatamento não parou de crescer.

Nesse contexto, a resposta "contundente" que o governo dará quando estiver presente na Amazônia com "força total" é apenas uma versão seminova da mesma conversa fiada. Sob Bolsonaro, o único território livre de devastação é a cara de pau de um presidente que consolida no Brasil o regime da mentirocracia.