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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula faz da defesa de ditaduras a sua cloroquina

Colunista do UOL

23/11/2021 09h23

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A recente viagem de Lula à Alemanha, Bélgica, França e Espanha resultou num êxito político retumbante. A iniciativa ganhou, por contraste, uma aparência de goleada quando comparada à incursão infrutífera e constrangedora de Bolsonaro por ditaduras árabes. De repente, exausto da própria liderança, Lula resolveu fazer gols contra.

Depois de ser recebido com pompa por lideranças das mais festejadas democracias europeias, o presidenciável do PT afagou as ditaduras da Nicarágua e de Cuba numa entrevista ao diário espanhol El Pais. A conversa foi publicada no sábado. Mas Lula gostou tanto dela que republicou nas suas redes sociais na segunda-feira.

"Por que Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder, e Daniel Ortega não?", indagou Lula a certa altura. Noutro trecho, o morubixaba do PT amenizou a repressão de manifestações de rua em Cuba. Disse que a polícia é violenta no mundo inteiro. E considerou "engraçado" criticar a truculência da ditadura cubana e não reclamar do bloqueio econômico dos Estados Unidos a Cuba.

Na Nicarágua, o presidente Daniel Ortega comanda um regime que produz mortos e expatriados. Tendo sua mulher como vice, reelegeu-se pela quarta vez, numa eleição em que obteve 76% dos votos depois de mandar para a cadeia sete postulantes ao trono. Mas Lula não consegue diferenciar o ditador de estimação de madame Merkel, cuja biografia está adornada por uma coleção de vitórias obtidas em eleições limpas e democráticas.

Lula tampouco consegue combinar a crítica ao embargo que Washington impõe a Havana com um reconhecimento qualquer de que a ditadura amiga de Cuba apodrece cada vez que baixa o porrete em cidadãos que saem ao meio-fio para pedir democracia.

Lula e seus devotos detestam ouvir certas obviedades. Mas a mania de flertar com ditaduras companheiras, associada ao excesso de corrupção dos governos do PT, alimentou a atmosfera que levou água para o moinho de Bolsonaro.

Agora, com a liderança vitaminada pelo autoritarismo desmiolado do capitão, Lula faz da defesa das ditaduras de esquerda a sua cloroquina.