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Bolsonaro dá ripada no Estado para acudir Hang
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Na hora do aperto, a tendência do ser humano é a de procurar a sua turma. Foi o que fez o dono da Havan, Luciano Hang, quando uma equipe do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan, interditou a construção de uma de suas lojas na cidade gaúcha de Rio Grande, em dezembro de 2019. Alegou-se que havia no local material de interesse arqueológico. O empresário tocou o telefone para o amigo presidente. E Bolsonaro reagiu à moda Bolsonaro.
"Ripei todo mundo" no Iphan, contou o capitão num encontro com empresários, na Fiesp. A plateia caiu na gargalhada. E aplaudiu. Os dicionários trazem muitos significados para o verbo ripar. Entre eles "espancar", "ofender", "humilhar", "aviltar". Foi exatamente o que fez Bolsonaro. Espancou a autoridade do Iphan. Ofendeu o interesse público. Aviltou os mais elementares princípios republicanos.
"O Iphan não dá mais dor de cabeça para a gente", disse Bolsonaro aos empresários, com o sentimento de dever cumprido. Voltando-se para o ministro Ciro Nogueira, da Casa Civil, o presidente piorou o soneto com uma emenda inusitada:
"Quando eu ripei o cara do Iphan o que teve... —me desculpa aqui prezado Ciro— o que teve de político querendo uma indicação não estava no gibi. Daí eu vi realmente o que pode fazer o Iphan, tem um poder de barganha extraordinário. Vocês sabem o que acontece!"
Bolsonaro insinuou que servidores do Iphan criam dificuldades para vender facilidades. A insinuação vira aleivosia quando chega desacompanhada de nomes e CPFs. Transforma-se em prevaricação quando o orador deixa de mencionar as providências que adotou para punir os funcionários indignos.
Deve-se lamentar, de resto, que Bolsonaro não tenha esboçado essa tipo de preocupação quando entregou o orçamento secreto, a Casa Civil, a Secretaria de Governo e vários cofres de segundo escalão ao centrão. Ou quando contraiu matrimônio com o partido do ex-preso do mensalão Valdemar Costa Neto.
O contrário do antibolsonarismo primário é um pro-bolsonarismo inocente, que aceita todas as presunções de Bolsonaro a seu próprio respeito. O capitão já afirmou certa vez: "Eu sou a Constituição". Alguém que diz algo assim imagina que é o próprio Estado.
Não é a hipocrisia do presidente patriota que espanta. O que assusta mesmo é a sensação de que Bolsonaro não está sendo cínico. Ele acredita mesmo que a sua missão especial no mundo da Terra plana lhe dá o direito de tratar a coisa pública como se fosse coisa sua. Ou dos seus amigos. Ou dos seus filhos.
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