Explosão mostra que pacificação fica obsoleta antes de acontecer
Ao se explodir na Praça dos Três Poderes, defronte da sede do Supremo Tribunal Federal, Francisco Walderley Luiz expôs ao país três evidências ruidosas:
1) O dia 8 de janeiro de 2023 não acabou. E acaba de ganhar o adorno tétrico de um cadáver.
2) Ainda impunes, os membros do alto-comando do golpe desfrutam de uma anistia informal que estimula reincidências.
3) A sonhada pacificação do Brasil vai ficando obsoleta antes de acontecer.
Decorridos um ano e dez meses do fatídico quebra-quebra, foram punidos apenas os bagrinhos que orgnizaram nas redes sociais uma "festa da Selma", para "comer o bolo" durante o assalto às sedes dos Três Poderes. Continuam impunes Bolsonaro e seus cúmplices. Inelegível, o mentor da fuzarca perambula pela conjuntura política estalando de pureza democrática.
Juntando-se o debate sobre anistia com a falta de políticos e militares atrás das grades chega-se à mistura que inspira o surgimento do homem-bomba —um patriota catarinense, ex-candidato a vereador pelo PL, que deixou nas redes sociais um rastro pegajoso de ódio às instituições e apreço por teorias conspiratórias. O bolsonarismo se apressa em qualificar qualificar o homem-bomba como maluco.
Em dezembro de 2022, aloprados saídos do acampamento do QG do Exército tentaram invadir a sede da Polícia Federal. Impedidos, promoveram uma arruaça no centro de Brasília. Dias depois, desarmou-se uma bomba plantada por outro maluco num caminhão de combustível, nas cercanias do aeroporto de Brasília. Sobreveio o 8 de janeiro. Uma vez, o flagrante de maluquice é crime. Duas vezes é reincidência. Mais de três vezes é reflexo da impunidade de gente graúda.
Horas antes da explosão na Praça dos Três Poderes, Bolsonaro disse numa entrevista contar com a reversão de sua inelegibilidade. Declarou que será presidenciável enquanto sua "morte política" não for "anunciada para valer". O homem-bomba morreu ao fazer o que não devia. Seu cadáver convida autoridades brasilienses a refletir sobre a urgência de fazer o que devem. A Procuradoria-Geral da República e o Supremo devem ao país algumas lápides.