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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Escândalo do MEC intima Aras a agir, mas procurador-geral se finge de morto

Colunista do UOL

22/03/2022 09h10

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A gravação em que o ministro Milton Ribeiro diz condicionar a liberação de verbas do Ministério da Educação para prefeituras a um lobby de pastores por ordem de Bolsonaro adicionou uma dose de desfaçatez a um escândalo que clama por investigação. Além do áudio do ministro, divulgado pela Folha, notícia do Estadão revela a existência de um milagre no MEC. Pedidos de recursos que costumavam se arrastar indefinidamente no tempo passaram a ser liberados na velocidade da luz nos casos abençoados pelos pastores que receberam de Bolsonaro autorização divina para abrir os cofres.

A notícia de que os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, sem vínculos formais com o governo, passaram a controlar a agenda e a caneta do também pastor Milton Ribeiro lateja no noticiário desde a semana passada. Num país convencional, a Procuradoria-Geral da República já teria dado algum sinal de vida. Mas o principal problema ético-político do Brasil de Bolsonaro é que o cidadão em dia com suas obrigações tributárias é incapaz de reconhecer a honestidade de propósitos de Augusto Aras. E o procurador-geral é incapaz de demonstrá-la.

Na gestão Aras, o MEC vem servindo como álibi para que a Procuradoria-Geral simule isenção. Omissos em todos os casos em que Bolsonaro e sua trupe mais prestigiada afrontam a lei, Aras e sua equipe processaram o ex-ministro Abraham Weintraub por racismo contra a China e o próprio Milton Ribeiro por homofobia. O ministro-pastor disse numa entrevista que a homossexualidade é uma anomalia que decorre de "famílias desajustadas".

No mais, Aras dedica-se a fornecer impunidade a Bolsonaro e seus chegados. Faz isso fechando os olhos para evidências, lançando mão de recursos protelatórios e abrindo investigações preliminares cenográficas que terminam na gaveta.

Protegido por um procurador que não procura, Bolsonaro e seus ministros terão que perder os cargos para que as provas que produziram contra si mesmos sejam convertidas em ações penais. O eleitor brasileiro vai acabar se convencendo de que a melhor hora se eleger um bom presidente é três anos e três meses atrás. E que a segunda melhor hora é em outubro de 2022.