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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Comentários de Lula tornaram desnecessário o gabinete do ódio de Bolsonaro

Colunista do UOL

07/04/2022 09h24

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Bolsonaro já pode desativar o seu gabinete do ódio. Lula decidiu fazer sozinho, de graça e com maior eficiência o trabalho de toda a milícia digital bolsonarista. Entre segunda e terça-feira, o pajé do PT defendeu a descriminalização do aborto, tachou a elite brasileira de "escravista", disse que "a classe média ostenta um padrão de vida acima do necessário", incitou o sindicalismo da CUT a "incomodar a tranquilidade" de parlamentares e familiares com protestos na frente de suas casas e anunciou que colocará no olho da rua 8 mil militares que ocupam cargos de confiança.

Até os petistas se perguntam nas últimas horas o que está havendo com Lula. Ao escalar o salto alto, o presidenciável do PT consolidou-se como cabo eleitoral dos sonhos do seu rival, levando água para o moinho da reeleição de Bolsonaro. Lula esfregou o aborto na cara de evangélicos e católicos de maneira tosca, improvisando sobre um tema que merece reflexão séria e profunda, estapeou a elite com o seu relógio Piaget apertado no pulso, afugentou uma classe média que já havia se refugiado no bolsonarismo em 2018 e hostilizou parlamentares com os quais terá de negociar se for eleito. Tudo isso e mais o cutucão gratuito nos militares.

Antes mesmo da formalização da chapa com Geraldo Alckmin, Lula anulou os efeitos do aceno ao eleitorado conservador. Será interessante ouvir o que pensa o futuro vice, um católico padrão Opus Dei, sobre a plataforma do seu novo amigo de infância. Não é que Lula compromete o esforço para transpor as fronteiras da esquerda. A questão é que o presidenciável do PT corre o risco de perder votos num instante em que Bolsonaro sobe nas pesquisas. Os milicianos coordenados pelo Zero Dois Carluxo não conseguiriam produzir tamanho estrago. Por um instante, Lula tornou-se o principal fornecedor da matéria-prima que o bolsonarismo usa para bombardeá-lo nas redes sociais.