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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Tragédia de Bruno e Dom abre as portas de um hospício comandado por loucos

Colunista do UOL

14/06/2022 09h50

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As autoridades rodam como baratas tontas em torno do caso do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips. Sob pressão nacional e internacional, Bolsonaro informa que deve voar para a Amazônia.

Sob constrangimento institucional, o presidente do Senado Rodrigo Pacheco diz que a região amazônica está sob o domínio de um "Estado paralelo comandado pelo crime organizado." E o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, incapaz de cumprir a atribuição legal de combater criminosos na zona de fronteira, dedica-se a guerrear com o Tribunal Superior Eleitoral.

A preocupação cenográfica de Bolsonaro é uma tentativa tosca e desajeitada de reagir às pressões internacionais e internas. O esforço é anulado pelo histórico do presidente.

Na campanha de 2018, Bolsonaro prometeu intervir no Ibama, no ICMBio e na Funai para acabar com a "indústria das multas" ambientais e com a "farra" das demarcações de terras indígenas.

No poder, o capitão cumpriu as promessas à risca. Aliou-se a desmatadores, mineradores e pescadores ilegais que, eventualmente, se associam a traficantes de drogas e armas.

Rodrigo Pacheco rendeu homenagens ao óbvio quando constatou a existência de um Estado paralelo comandado pelo crime na Amazônia. Agora só falta Pacheco explicar porque o Senado, sob sua presidência, acelera a votação de propostas tóxicas para o meio ambiente.

Correm no Senado, em ritmo de toque de caixa, pelo menos oito propostas radioativas. Alteram o Código Florestal, flexibilizam o uso de agrotóxicos, anistiam desmatadores, diminuem restrições em área de preservação e unidades de conservação.

O crime se organizou na Amazônia porque o Estado se esculhambou. Num quadro em que os criminosos ambientais se misturam a traficantes de armas e de drogas, está ameaçada a própria segurança nacional. Com delegação constitucional para lidar com a encrenca, as Forças Armadas preferem priorizar a adesão à campanha de Bolsonaro para injetar insegurança no processo eleitoral.

Em ofício enviado ao presidente do TSE, Edson Fachin, o general Paulo Sérgio, ministro da Defesa, citou até o artigo 142 da Constituição. Um artigo que, na interpretação miliciana do bolsonarismo, faria das Forças Armadas uma espécia de Poder Moderador da República, com aval para realizar inclusive uma apuração paralela das urnas.

É como se a tragédia de Bruno e Dom tivesse escancarado as portas de um hospício comandado por loucos.