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'Honrarias' da PF a ex-ministro injetam escárnio dentro do escândalo do MEC
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Bolsonaro, seus filhos e todos os bumbos da banda do bolsonarismo se referiram à prisão do ex-ministro Milton Ribeiro como uma evidência de que o governo não interfere no trabalho da Polícia Federal. Numa correspondência de nove parágrafos, o delegado federal Bruno Calandrini, responsável pelo inquérito sobre o pastoreio de verbas no MEC, triturou essa versão.
No texto, o delegado faz uma espécie de desabafo para os colegas que participaram das batidas de busca e apreensão e das prisões. Ele sustenta que houve "interferência na condução da investigação". Espanto! Anota que o ex-ministro "foi tratado com honrarias não existentes na lei". Pasmo!! Declara que a apuração foi "prejudicada". Assombro!!! Avalia que não dispõe de "autonomia investigativa para conduzir o inquérito deste caso com independência e segurança institucional." Estupefação!!!
Como evidência da interferência, Bruno Calandrini menciona o fato de o Milton Ribeiro não ter sido transferido da cidade de Santos para Brasília, como havia determinado inicialmente o juiz Renato Borelli, da 15ª Vara Federal do Distrito Federal. O ex-ministro acabou sendo conduzido para a carceragem da PF em São Paulo. O órgão alegou que dificuldades financeiras teriam impedido a transferência. O delegado insinua que as razões foram outras.
Tomado pelo teor do seu texto, o delegado Bruno Calandrini parece lamentar a perda da chance de interrogar Milton Ribeiro nas pegadas de sua detenção. Surpreendido, o ex-ministro poderia tropeçar na língua. O efeito surpresa virou fumaça com a retenção do preso em São Paulo e a posterior ordem de soltura, emitida nesta quinta-feira pelo desembargador Ney Bello, do TRF-1, sediado em Brasília.
A repórter Malu Gaspar informa no jornal O Globo que Bello é o magistrado favorito a assumir uma das vagas à espera de preenchimento no Superior Tribunal de Justiça. O magistrado coleciona um histórico de decisões que ornam com os interesses do Planalto.
A propósito da correspondência do delegado Calandrini, a Polícia Federal divulgou uma nota oficial. Nela, informou que abrirá apuração "para verificar a eventual ocorrência de interferência, buscando o total esclarecimento dos fatos". Resta saber quem investigará a apuração da Polícia Federal.
Abaixo, a íntegra da carta do delegado Bruno Calandrini:
"Muito obrigado a todos pelo empenho na execução da Operação Acesso Pago.
A investigação envolvendo corrupção no MEC foi prejudicada no dia de ontem em razão do tratamento diferenciado concedido pela PF ao investigado Milton Ribeiro.
Vejo a operação policial como investigação na essência e o momento de ouro na produção da informação/prova.
O deslocamento de Milton para a carceragem da PF em SP * é demonstração de interferência na condução da investigação, por isso, afirmo não ter autonomia investigativa e administrativa para conduzir o Inquérito Policial deste caso com independência e segurança institucional.
Falei isso ao Chefe do CINQ ontem, após saber que, por decisão superior, não iria haver o deslocamento de Milton Ribeiro para Brasília, e, manterei a postura de que a investigação foi obstaculizada ao se escolher pela não transferência de Milton à Brasília à revelia da decisão judicial.
As equipes de Gyn, Brasília, Belém e Santos, que cumpriram a missão de ontem, trabalharam com obstinação nas ruas e no suporte operacional, um trabalho hercúleo para o cumprimento dos mandados durante a Operação Acesso Pago, literalmente se esforçaram 24/7 e foram aguerridos em capturar todos os alvos. Faço referência especial às equipes de GYN que, mesmo após a prisão, ainda escoltaram os presos via terrestre, para a SR/PF/DF, incontinenti.
No entanto, o principal alvo, em São Paulo, foi tratado com honrarias não existentes na lei, apesar do momento operacional da equipe de Santos que realizou a captura de Milton Ribeiro, e estava orientada, por este subscritor, a escoltar o preso até o aeroporto em São Paulo para viagem à Brasília,
Quantos presos de Santos, até ontem, foram levados para a carceragem da SR/PF/SP?
É o que tinha a manifestar em lealdade a vocês que cumpriram a missão de ontem com o espírito do verdadeiro policial federal."
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