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Senador pró-garimpo no comando de comissão sobre Yanomami é desrespeitoso
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A plateia pode estar sendo injusta com o senador Chico Rodrigues. Talvez ele visse o drama dos Yanomami como um dos principais problemas de Roraima, seu Estado, desde os tempos em que sugeriu a formação no Congresso de uma Frente Parlamentar do Ouro. Quem sabe o personagem foi acomodado na presidência da comissão composta para acompanhar a situação dos Yanomami porque a crise humanitária dos indígenas fizesse parte de sua agenda secreta.
Na vida, todo mundo deve raciocinar com hipóteses. Das mais amplas às mais específicas. A melhor das hipóteses é que Chico Rodrigues está sendo vítima de maledicências de gente interessada em fazer de um político admirador genuíno do povo Yanomami um defensor abnegado de garimpeiros ilegais. A pior das hipóteses é que, alheio à evidência de que tudo o que está na cara não pode ser uma conspiração da lei das probabilidades contra um humanista insuspeitado, há no comando da comissão do Senado um aliado indisfarçável do garimpo predatório.
Diante de tais hipóteses, o Senado tem duas alternativas: ou muda o nome de sua geringonça para Comissão de Socorro aos Garimpeiros ou admite que, ao entregar o comando do colegiado a um amante do garimpo, comete inominável desrespeito com as vítimas de algo que há de ser tipificado pelo Judiciário nacional como crime de genocídio. A admissão do despautério faria jus ao requerimento que deu origem à comissão hipoteticamente voltada ao acompanhamento externo da retirada dos invasores da reserva Yanomami.
Assinam o pedido de formação da comissão os três senadores de Roraima: Chico Rodrigues (PSB), Mecias de Jesus (Republicanos) e Doutor Iran (PP). Diz o texto: "Diante da situação da grave crise humanitária com a retirada dos garimpeiros da área indígena Yanomami, torna-se imprescindível a criação de uma Comissão Externa para acompanhar a retirada pacífica e urgente dos garimpeiros dessa região."
Na sessão em que foi alçado à presidência da comissão, Chico Rodrigues discursou: "Se formos traçar um paralelo hoje, os refugiados venezuelanos recebem os benefícios dos programas sociais do governo. Então, imaginem os garimpeiros, que são brasileiros! Precisam também, até para mitigar o sofrimento que vão ter naturalmente quando saírem daquelas áreas."
Quer dizer: os senadores de Roraima, Chico Rodrigues à frente, não estão preocupados com os Yanomami, seus mortos, seus desnutridos, suas estupradas, suas terras aviltadas, suas águas contaminadas. A preocupação dos senadores é com o amparo aos garimpeiros invasores. É lícito que o façam. Até porque alguma alternativa de sobrevivência há de ser providenciada para os ilegais, sob pena de reincidirem no crime. O que não parece adequado é que façam a defesa dos transgressores numa comissão supostamente formada para acompanhar o socorro às vítimas.
Talvez deva-se percorrer a trajetória de Chico Rodrigues atrás de referências, mesmo que veladas, à importância da preservação da terra Yanomami. Caso não se encontre nenhuma referência explícita de apreço à maior reserva indígena do país, aumentam as probabilidades de que se trate de um dos principais itens da sua agenda secreta. O diabo é que os arqueólogos do histórico do senador se arriscam a tropeçar num episódio pouco lisonjeiro.
Ao ser capturado pela Polícia Federal, em 2020, Chico Rodrigues escondia entre as nádegas R$ 30 mil. Por sorte, o ministro Luís Roberto Barroso, relator de inquéritos sobre os Yanomami e também do processo que corre contra o senador no Supremo Tribunal Federal, mandou guardar num cofre a filmagem da cueca monetária de Chico Rodrigues. Nessa época, o personagem estava filiado ao antigo DEM e respondia pela vice-liderança do governo Bolsonaro no Senado. Hoje, pertence ao Partido Socialista Brasileiro (PSB). A migração do bolsonarismo para o socialismo era outro item de sua agenda secreta.
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