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Vacina fake faz direita recalcular risco-Bolsonaro
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Em política nada é mais equivocado do que ter certezas. Até o início da semana, uma convicção unânime animava os aliados de Bolsonaro. Estavam todos convencidos de que o capitão, encrencado com a Justiça Eleitoral, não conseguiria ser candidato em 2026, mas seria um fabuloso cabo eleitoral. O escândalo da vacinação fake antecipou o encontro da direita brasileira com o cálculo político.
Até os bolsonaristas mais petrificados passaram a fazer uma conta do tipo custo-benefício. Com a mesma naturalidade com que um garçom indaga no restaurante "com gás ou sem gás?", o bolsonarismo passou a se perguntar: Com Bolsonaro ou sem Bolsonaro?
A exemplo do que fez em escândalos anteriores, Bolsonaro ensaia a pose de vítima e a terceirização da culpa a Mauro Cid, o coronel faz-tudo. Mas a chance de êxito da estratégia é vista com ceticismo.
Avalia-se que permanece inalterada a disposição de algo entre 15% e 20% do eleitorado de acreditar em tudo o que Bolsonaro diz. Estima-se, porém, que os conservadores incrédulos tendem a intensificar a busca por líderes políticos que, como eles, já não acreditam em nada do que Bolsonaro faz e diz.
Valdemar Costa Neto e a cúpula do seu Partido Liberal ainda apostam que Bolsonaro será um bom cabo eleitoral para a disputa municipal de 2024. Mas cresce no centrão bolsonarista a percepção de que a construção de um projeto conservador para 2026 pode exigir um distanciamento do capitão. Na política, a solidariedade só vai até a beirada do poço.
Imaginava-se que Bolsonaro conseguiria adiar indefinidamente seu encontro com o fundo do poço. Quando parece que o lodo terminal foi tocado, um novo escândalo surge para informar que o percurso terá novas escalas.
Ao fundo do poço das rachadinhas seguiu-se o fundo do poço dos crimes sanitários, ultrapassado pelo fundo do poço da contestação das urnas, suplantado pelo fundo do poço dos acampamentos golpistas nos quarteis, excedido pelo fundo do poço da fuga para a Disney, humilhado pelo fundo do poço do 8 de janeiro, seguido pelo fundo do poço das joias árabes...
No enredo dessa tragicomédia em que Bolsonaro se afunda, a fraude dos cartões de vacina é apenas mais um estágio rumo às profundezas. Mas consolida-se a impressão de que tudo ao redor de Bolsonaro tem a aparência de epílogo. Por isso, um pedaço da direita começa a recalcular o "risco Bolsonaro".
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