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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula recoloca Marina numa antiga corda bamba

                                Divulgação/Ricardo Stuckert
Imagem: Divulgação/Ricardo Stuckert

Colunista do UOL

22/05/2023 18h43

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Nas entrevistas, as últimas perguntas costumam ser as mais perigosas. Lula já estava distante do microfone, encaminhava-se para a porta de saída, quando foi questionado num hotel da cidade japonesa de Hiroshima sobre o veto do Ibama à exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas. Ao responder, não excluiu a hipótese de reverter a decisão técnica que vetou perfurações de pesquisa da Petrobras na área. Com suas palavras, Lula recolocou a ministra do Meio Ambiente Marina Silva numa antiga corda bamba.

Lula mediu suas palavras na escala dos quilômetros. Realçou que a prospecção da Petrobras ocorreria em alto mar, a 530 quilômetros da foz do Amazonas. Deu a entender que a distância atenuaria os riscos. A posição do Ibama, avalizada por Marina, é medida na escala dos valores ambientais. Os técnicos do Meio Ambiente dizem ter detectado "graves inconsistências" nos planos da Petrobras. Acham que a prospecção leva insegurança a uma área de "alta vulnerabilidade socioambiental", colocando em risco comunidades indígenas, ribeirinhos e a biodiversidade. A Petrobras vai recorrer da decisão.

Está em jogo a credibilidade da agenda ambiental do governo. Antes de tropeçar na capciosa pergunta final, Lula havia reiterado na entrevista concedida no Japão as prioridades que vem empinando desde a campanha presidencial do ano passado: recuperação da Amazônica, investimentos em projetos associados à chamada economia verde e uma transição energética que pressupõe a redução da dependência do petróleo.

Lula repetiu que há 28 milhões de pessoas na Amazônia. Disse que esses brasileiros têm o direito de trabalhar. Mas ponderou que é preciso gerar "empregos limpos".

De volta ao Brasil, após participar da reunião do G7, Lula terá que decidir se dá mão forte a Marina Silva ou se prestigia a ala dita desenvolvimentista do governo. Repete-se agora um cenário parecido com o de 2008, quando Lula e a então chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, aprovaram o início de obras de grandes hidrelétricas no rio Madeira, na Amazônia, contra posições de Marina. Naquela época, Marina pulou da corda bamba antes que a derrubassem. "Perco o pescoço, mas não perco o juízo", disse ela na época. Se contrariada agora, é improvável que reaja de forma diferente.