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Advogado defende Bolsonaro desqualificando-o
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Escolhido para representar Bolsonaro no julgamento em que o TSE deve expurgá-lo das urnas até 2030, o advogado Tarcísio Vieira de Carvalho Neto adotou uma estratégia inusitada. Optou por defender o seu cliente desqualificando-o. Sustentou que as mentiras contadas por Bolsonaro a mais de 70 embaixadores estrangeiros reunidos no Alvorada em julho de 2022 não foram parte de um plano para virar a mesa da democracia. Tratou-se apenas de um golpe contra a língua portuguesa.
Na versão do doutor, os ataques infundados de Bolsonaro contra o sistema eleitoral constituem mero exercício da liberdade de expressão. Admitiu que Bolsonaro, com dificuldade de se expressar, "fez uma fala forte e desinibida, talvez em tom inadequado e ácido." Qualificou a reunião de "franciscana". Além de inverdades sobre o sistema eleitoral, foram servidos "café, pão de queijo e suco". Abstraindo o prejuízo institucional, o custo para a República foi de R$ 9 mil.
O advogado considera absurda a tese segundo a qual a reunião com os embaixadores ajudou a atiçar o 8 de janeiro. Questiona a inclusão no processo da minuta golpista encontrada posteriormente no armário do ex-ministro Anderson Torres. Lembra que, para livrar a chapa Dilma-Temer da cassação, em 2017, o TSE desconsiderou provas do uso de dinheiro sujo da Odebrecht na campanha.
"Se o presidente é habilidoso ou não no uso do vernáculo, isso não está em julgamento", disse o advogado a certa altura. Para ele, Bolsonaro pode ter exibido no encontro com os embaixadores uma "verve imprópria". Acha, entretanto, que o TSE poderia no máximo multá-lo pelas "falas de conteúdo desinformacional", eufemismo para difusão de falsidades.
Mal comparando, a defesa deixou Bolsonaro numa posição parecida com a de um personagem secundário da peça Júlio César, de Shakespeare. Insuflados por Marco Antonio, os plebeus saem à caça dos assassinos do imperador. A turba esbarra num cidadão chamado Cinna. Alguém grita: "Matem-no, é um dos conspiradores." Outra voz retruca ao fundo: "Não, é apenas Cinna, o poeta". E a sentença: "Então, matem-no pelos maus versos."
Levando os termos da defesa de Bolsonaro a sério, o TSE pode acabar condenando o capitão a uma inelegibilidade de oito anos pelo mau português.
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