Passado aconselha Lula a retirar do balcão a Caixa e outros cofres
O terceiro governo de Lula é novo. Mas o presidente conhece o centrão e suas alegorias de outros Carnavais. De volta das férias no cruzeiro marítimo do Safadão, Arthur Lira se equipa para um encontro com Lula. Conversarão sobre o toma-lá-dá-cá. Terão que definir o quanto, afinal, o centrão ainda quer tomar e, mais importante, o que Lula está disposto a dar. Se depois desse encontro a Caixa Econômica Federal continuar sobre o balcão, Lula não poderá alegar mais tarde que não sabia nem atribuir ao destino as besteiras que comete por conta própria.
O PP de Lira indicou para a Caixa Gilberto Occhi. Diz-se que é servidor de carreira do banco. Em verdade, trata-se de um apadrinhado de carreira da oligarquia do PP. Já representou a legenda em dois governos. Chefiou os cofres de três ministérios e da própria Caixa. Ali, deixou um incômodo rastro, informa notícia do UOL.
Lula preferiria acomodar na Caixa a ex-ministra petista e atual secretária-executiva da Casa Civil Miriam Belchior. Mas sinaliza que não se opõe à ideia de entregar para o centrão vice-presidências, diretorias e superintendências estaduais do banco. Esse filme é repetido. E não tem um final feliz. Já passaram pelo segundo escalão da caixa gente como um preposto do ex-presidiário Eduardo Cunha, e Geddel Vieira Lima, outro ex-detento que guardava num apartamento de Salvador mais de R$ 50 milhões em malas.
Na campanha presidencial, espremido numa entrevista sobre o petrolão, Lula disse que o loteamento de cargos acontece em todas as democracias ao redor do mundo. A certa altura, isentou-se de responsabilidade pela roubalheira: "As pessoas que eu indiquei para a Petrobras eram pessoas com mais de 30 anos [na empresa]. Não era um corpo estranho."
Chama-se Paulo Roberto Costa o primeiro delator do petrolão. Lula o chamava de "Paulinho". Ao confessar os seus crimes, disse ter trabalhado na estatal por 27 anos "sem nenhuma mácula". Apadrinhado pelo PP de Lira para a diretoria de Abastecimento da petroleira, corrompeu-se.
Se Bolsonaro não tivesse levado o cofre do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação ao balcão, Lira não precisaria hoje marcar o assoalho do Alvorada com o rastro pegajoso de um inquérito sobre a compra superfaturada de kits de robótica com verbas públicas convertidas em emendas secretas. Se Lula não retirar a Caixa e outros cofres do balcão, ficará demonstrado que o que arruína uma Presidência não são os erros atribuídos ao presidente, mas o modo como ele age depois de cometê-los.
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