Comandante do Exército faz um discurso dúbio, débil e doloroso
Não são as perversões individuais que arruínam uma corporação, mas o modo como essa corporação reage depois de conhecê-las. Nesta sexta-feira, Dia do Soldado, o general Tomás Paiva, comandante do Exército, disse em discurso que as Forças Armadas conquistaram prestígio por conta do respeito à Constituição. "Esse comportamento coletivo", disse ele, "não se coaduna com eventuais desvios de conduta, que são repudiados e corrigidos." A manifestação soou dúbia, débil e dolorosa.
Deve-se a dubiedade ao fato de o general ter mencionado uma certa respeitabilidade sem se dar conta de que o respeito às Forças Armadas, por incerto, vale agora apenas até certo ponto. O ponto de interrogação. A debilidade dos argumentos saltou do trecho em que o comandante do Exército chamou de "eventuais desvios" os crimes atribuídos aos militares, alguns já nitidamente demonstrados.
A fala de Tomás Paiva foi dolorosa porque passou a impressão de que o general perdeu-se na generalidade ao insinuar que desvios eventuais serão "repudiados e corrigidos." Repúdio e correção são dois eufemismos —palavras mais agradáveis que o general utiliza para se esquivar de dizer a única expressão aceitável no momento: Punição exemplar.
Horas depois do discurso do comandante do Exército, o tenente-coronel Mauro Cid foi levado da cadeia à Polícia Federal. Atendeu a mais uma intimação para prestar depoimento. Estava fardado. Ostentou o fardamento também na véspera, em depoimento à CPI do Golpe que funciona no Legislativo de Brasília.
Algo está muito errado quando uma corporação acha que está fazendo tudo certo e não consegue nem mesmo despir a farda de um oficial que a desonrou. Isso não se resolve apenas embaralhando fatos. As Forças Armadas precisam mostrar alguma carta.
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