'Ressignificação' de Janja perde significado com presente a Musk
Discursando no G20 Social, a primeira-dama do Brasil mandou o homem mais rico do mundo se autofornicar: "Fuck you, Elon Musk". Em certas circunstâncias, um palavrão bem dito torna-se bendito. Produz um alívio que nem a melhor prece é capaz de prover. Mas um palavrão teatral, solto no meio do nada —ou de uma fala da mulher do presidente—, serve apenas para realçar a teatralidade de alguém que ambiciona ser o centro das atenções.
Janja presenteou Elon Musk com o papel de agredido. Uma dádiva para quem costuma alternar a condição de agressor com a de poderoso. O agressor briga com a sutileza desde um post de 2020: "Nós daremos golpes contra quem quisermos. Lidem com isso!". O poderoso, aninhado ao pé do ouvido de Donald Trump, gargalhou para Janja num par de emojis. E rogou uma praga: "Vão perder a próxima eleição."
Político calejado, Lula não morre de constrangimento. Mas apressou-se em colocar uma ponte de safena na retórica de sua mulher: "Não temos que xingar ninguém." Ficou mal no Alvorada para não ficar pior na Casa Branca. Tentou atenuar o prejuízo do Itamaraty, que molha os punhos de renda para exorcizar o personalismo que vem afastando a diplomacia dos trilhos do interesse nacional.
Numa entrevista concedida dias antes da posse do marido, Janja revelou o desejo de "ressignificar o conteúdo" do papel de uma primeira-dama. Definiu-se como pessoa "propositiva", do tipo que "vai e faz". Às margens do G20, fez e aconteceu como nunca antes.
Algumas primeiras-damas preferiam a discrição. Outras amavam os holofotes. Mas nenhuma disse palavrão em cerimônia oficial. Janja pode dar à ressignificação do seu primeiradamismo o significado que quiser, desde que comece a levar em conta que a Constituição brasileira não concede poder e significado a ninguém apenas por ser mulher de presidente.
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