Desprezado por Trump, Lula reforça laços com Xi e Putin
Lula aguardava os primeiros movimentos de Trump para calibrar suas reações. Em privado, admite que ainda não sabe o tamanho do fantasma que está dentro do lençol da Casa Branca. Mas decidiu agir. Na definição de um ministro palaciano, "o governo brasileiro não quer briga com Trump, quer respeito".
Liberado pelos médicos nesta segunda-feira para retomar atividades físicas e viagens internacionais, Lula analisa a sério a hipótese visitar China e Rússia em maio. De resto, encomendou ao Itamaraty esforços adicionais para apressar a formalização do acordo comercial fechado entre Mercosul e União Europeia.
Confirmando-se a ida a Pequim, Lula participaria com o presidente chinês Xi Jinping de reunião que celebrará os dez anos do Foro Celac-China. O grupo reúne todos os países países da América Latina e do Caribe. Em julho, Xi virá ao Brasil, para reunião dos chefes de estado do Brics, sob a Presidência do Brasil.
Em Moscou, Lula ornamentaria ao lado de Putin o aniversário de 80 anos do feriado em que o Kremlin celebra a vitória na Segunda Guerra. Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, essa celebração perdeu o nexo. Putin foi excluído nesta segunda-feira do ato em que líderes europeus lembraram as oito décadas da libertação do campo de concentração de Auschwitz, onde nazismo exterminou mais de 1 milhão de judeus.
O Planalto e o Itamaraty se movem nas pegadas de Trump. Eleito, ele esnobou esforço subterrâneo da diplomacia brasileira para intermediar um contato com Lula. Empossado, disse que o Brasil e a América Latina "precisam mais de nós do que nós precisamos deles". Na noite passada, discursando para devotos na Flórida, incluiu o Brasil num rol de países que "taxam demais" e "querem mal" aos Estados Unidos.
Durante a campanha eleitoral americana, Lula expressou em público sua torcida pela vitória de Kamala Harris. Parece ter descoberto o valor do silêncio. Na contramão do presidente colombiano Gustavo Petro, absteve-se de trocar farpas com Trump por conta da primeira leva de deportações de imigrantes ilegais sob nova administração. Delegou as reações ao Itamaraty e ao Ministério da Justiça.
De resto, Lula se esforça para demonstrar a Trump que o Brasil não é tão insignificante quanto ele tenta fazer crer. Faz isso guiando-se por uma máxima de Juscelino Kubitschek segundo a qual é melhor lutar na arena preferida do que no espaço escolhido pelo adversário.
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