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Leonardo Sakamoto

Petistas discutem "voto útil" em Boulos, agora contra França e Russomanno

Estadão Conteúdo e divulgação
Imagem: Estadão Conteúdo e divulgação

Colunista do UOL

05/11/2020 20h25

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Cada pesquisa que aponta que Jilmar Tatto (PT) não decola na preferência do eleitorado paulistano é acompanhada por uma onda de reclamações da parcela de petistas que deseja ver o partido apoiando Guilherme Boulos (PSOL). Com o levantamento do Datafolha, divulgado nesta quinta (5), não foi diferente. Mas, agora, o "voto útil" não seria apenas contra Celso Russomanno (Republicanos), mas também Márcio França (PSB).

Os três estão tecnicamente empatados em segundo lugar, atrás de Bruno Covas (PSDB), que foi de 23%, na pesquisa em 22 de outubro, para 28%.

Russomanno caiu de 20% para 16%. Boulos manteve-se com 14% e França foi de 10% a 13%. Nesse período, Tatto foi de 4% a 6%. A margem de erro é de três pontos percentuais.

Rejeição de Russomanno (47%) se encontra com desaprovação de Bolsonaro (46%)

Covas e França foram beneficiados pelo derretimento de Russomanno, que conta com o apoio de Jair Bolsonaro (sem partido). O presidente da República pediu votos para ele em sua live semanal na quinta (29).

Pode ser que o deputado federal encontre seu piso quando atingir a base de seguidores fiéis do presidente. Mas como a rejeição a Russomanno (47%) só é comparável à rejeição de Bolsonaro (46%, no Datafolha, de setembro), não se sabe quando isso vai acontecer.

A campanha de Boulos torce para que a queda de Russomanno não demore muito para que não fortaleça França com a transferência de votos.

O ex-governador tem se vendido como um progressista, mas disposto a dialogar com Bolsonaro. E bolsonaristas o veem como alguém que pode derrotar o aliado do governador João Doria. Aquilo que foi visto por analistas, no início do período eleitoral, como uma aposta arriscada, considerando o clima polarizado da política nacional, pode estar dando certo.

"O Márcio é a alternativa para quem não concorda nem com o PSOL, nem com Bolsonaro", destacou um parlamentar do PSB à coluna.

Petistas dizem que não é certeza que voto vá para Boulos se Tatto desistisse

A coluna conversou com lideranças petistas. As que defendem que o partido deve apoiar Boulos afirmam que isso precisa ser, no mínimo, a uma semana da eleição (marcada para o dia 15) para haver tempo hábil para o engajamento da militância e o uso da imagem de Lula.

Acreditam que o PT pode ficar em uma situação delicada e ser criticado no campo de esquerda caso o coordenador do MTST não passe para o segundo turno por uma diferença igual à intenção de votos de Tatto. Recorrem ao fato de que ele foi um dos principais apoiadores do ex-presidente enquanto esteve ele preso na Polícia Federal, em Curitiba.

Os que defendem, por outro lado, que o PT mantenha a candidatura lembram que o partido tem direito a ter candidato próprio, destacando que o PSOL mantém a sua no Rio de Janeiro, mesmo estando atrás nas pesquisas. E que, mesmo que houvesse consenso, não é garantia que os votos de Tatto seriam transferidos para Boulos em caso de desistência.

"Você não pode fazer isso sem uma pesquisa robusta, para entender qual seria o comportamento do eleitor do Tatto. Não adianta abrir mão se parte dos votos forem para o Russomanno ou o França", afirma uma das lideranças ouvidas. "Porque o corte demográfico do Boulos, hoje, não é necessariamente o mesmo do Tatto."

Voto útil natural na reta final pode ocorrer em São Paulo

A mesma liderança defende que quem pensa que Lula tem "gado" está enganado - fazendo referência à forma pejorativa como são chamados os seguidores radicais do presidente da República, por, supostamente, obedecerem em rebanho. "Há aqueles que aceitam a sugestão do Lula, mas há um monte de variáveis no meio", afirma.

"As posições no PT sobre um apoio à candidatura do PSOL dizem mais a respeito a disputas internas do partido do que sobre a consideração ao Guilherme [Boulos]", afirma uma das lideranças petistas à coluna. "Por isso foi e é tão difícil chegar a uma posição, mesmo frente aos fatos."

Todas as lideranças fizeram questão de ressaltar que o candidato petista tem sido elogiado no partido pela postura digna que estaria adotando, mantendo a dedicação mesmo com o baixo crescimento. O reconhecimento ocorreu, inclusive, em reunião com o próprio Lula. O que pode ser um indicativo de que não pretendem "cristianizar" Tatto.

Há uma análise corrente no PSOL, que não foi formalmente procurado pelo PT para tratar da questão, e dos próprios petistas, de que há um naco do voto militante que, na reta final, vai deixar Tatto e ir para Boulos, seja contra Russomanno ou França. Ou seja, um voto útil natural, como aconteceu em campanhas passadas tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro.