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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Após 392 mil mortes, meta de CPI será impedir Jair de 'cancelar mais CPFs'

Funcionário passa por meio de sepulturas no cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus (AM) - Michel Dantas - 25.fev.21/AFP)
Funcionário passa por meio de sepulturas no cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus (AM) Imagem: Michel Dantas - 25.fev.21/AFP)

Colunista do UOL

26/04/2021 20h11

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A CPI da Pandemia começa, nesta terça (27), após o Brasil ter registrado 392.204 mortes por covid-19. Ela não é a melhor ferramenta para reduzir o ritmo de perda de vidas pela doença, mas é o que temos neste momento, uma vez que o impeachment de Bolsonaro segue uma peça de ficção.

Isso porque o centrão mantém o acordo de leasing com ele, protegendo-o em troca de um quinhão de poder, cargos e emendas no orçamento.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), confirmou isso, nesta segunda, ao dizer que 95% dos pedidos de impeachment não têm "absolutamente nenhuma razão de ter sido apresentado". Sobre os outros 5%, afirma que há "muito pouca coisa" que se salva. Há, pelo menos, 115 pedidos na fila para serem analisados.

O que Lira esconde é que o comportamento de Bolsonaro é a principal razão para que o Brasil ostente essa montanha de mortos. O presidente apostou em uma estratégia mórbida - a aceleração do contágio da população em busca da imunidade de rebanho. Como resultado, perdemos centenas de milhares de brasileiros e demos espaço para o surgimento de mutações violentas do coronavírus.

Lira vende a ideia que, mais cedo ou mais tarde, os responsáveis por esse massacre serão punidos. "Mais uma vez eu digo, quem cometeu erros, dolo, falta de boa gestão dos recursos públicos com relação à covid-19 estará necessariamente responsabilizado no tempo adequado", disse.

Esse "tempo adequado", claro, é igual ao "fiado só amanhã".

Mas a prioridade não é a punir e sim salvar a maior quantidade de vidas possível. O que não vai acontecer se Bolsonaro continuar sendo Bolsonaro.

O presidente da Câmara ainda galgou mais um patamar no momento passa pano ao dizer que "em nada a CPI vai contribuir para a diminuição de mortes ou aumento de vacinas". Pelo contrário, deputado, ela pode ser a boia de salvação.

Seria necessária a interrupção do poder institucional e simbólico daquele que sabota os esforços de combate à doença e promove a circulação do coronavírus, governando sob o lema "se pegar, pegou, se morrer, morreu".

Bolsonaro exibe cartaz com mensagem "CPF cancelado" - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Imagem: Reprodução/Twitter

Já que isso não virá através do seu impedimento constitucional, que, pelo menos, aconteça pelo constrangimento público em uma CPI. O relatório final da comissão terá, como sempre, menos poder que a transparência aos depoimentos e documentos que mostrem a responsabilidade do presidente pelo caos sanitário e econômico. E vai ter de tudo por lá, incluindo má utilização de recursos públicos e suspeitas de superfaturamento de cloroquina.

Indicador que a CPI pode forçar o governo ser mais racional no trato com a pandemia é o comportamento violento de Jair nos últimos dias.

Previsível, ele ataca quando se sente acuado e fragilizado. Perceba as vezes que mostrou os dentes, recentemente. Por exemplo, nas declarações de que o Exército estaria a seu lado em ações golpistas. Mas não, não estaria. E ele sabe disso. Por isso, o medo.

Bolsonaro apareceu em uma foto com um CPF gigante atravessado por uma tarja vermelha em que está escrito "cancelado", o que gerou críticas. O termo "CPF cancelado" é usado por policiais e milicianos para designar quem morre em confronto com eles. Questionado sobre a imagem pela repórter Driele Veiga, da TV Aratu, nesta segunda (26), em Feira de Santana (BA), o presidente a chamou de "idiota". A agressividade e a ignorância é cortina de fumaça, mas, novamente, medo.

É amplamente sabido que ele atenta contra a vida do seu próprio povo. Por isso, será julgado, condenado e punido, mais cedo ou mais tarde. Mas precisamos frear, imediatamente, as mortes e impedir que uma terceira onda se aproveite do inverno e seja tão devastadora quanto a segunda. Para tanto, Jair precisa ser contido. Imediatamente.