Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Depoimento à CPI reforça que presidente da República sabotou vacinação
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
O depoimento de Francieli Fantinato, ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde, à CPI da Covid, nesta quinta (8), reforçou que o presidente Jair Bolsonaro sabotou a vacinação para a covid-19 no Brasil.
Ela afirmou que apesar de ser "meio efetivo para controle da pandemia", a execução da estratégia nacional de imunização foi politizada negativamente "por meio do líder da nação que traz elementos que muitas vezes [o] colocam em dúvida".
Segundo ela, o Brasil não teve doses de imunizante o suficiente, que poderiam evitar mortes pela doença, nem campanha publicitária efetiva para informar a população a respeito das vacinas.
"Faltou para o PNI, sob a minha coordenação, quantitativo suficiente para a execução rápida de uma campanha [de vacinação], e campanhas publicitárias para a segurança dos gestores, profissionais de saúde e população brasileira", disse aos senadores.
Infelizmente, Francieli Fantinato está parcialmente equivocada ao afirmar que não houve campanhas publicitárias voltadas a profissionais de saúde e à população brasileira. Houve sim, mas ao invés de incentivarem o distanciamento social, o uso de máscaras e explicarem a importância da vacinação, preferiram empurrar as pessoas à livre contaminação e recomendar o chamado remédios inúteis para a covid-19.
E o principal "garoto propaganda" foi o próprio presidente da República.
Há farto material comprovatório de que o governo usou sua máquina de comunicação para sabotar vacinas e as medidas adotadas por governadores e prefeitos no combate à doença. Por exemplo, Bolsonaro tem aproveitado suas viagens de campanha pré-eleitoral pelo Brasil, custeadas graças a nossos impostos, para atacar vacinas.
Foi assim no ano passado quando afirmou, em viagem à Bahia, que o imunizante da Pfizer transformaria brasileiros em "jacarés", enquanto seu governo ignorava a oferta de milhões de doses do produto que poderiam ter sido entregues em 2020. Ou quando atacava a "vachina", desenvolvida pela CoronaVac e produzida pelo Instituto Butantan, dando subsídios para os malucos que acreditam em teorias da conspiração acreditassem que ela inoculava microchips nas pessoas.
E é assim agora. Falando em uma igreja evangélica, em Anápolis (GO), no dia 9 de junho, em mais um ato pré-eleitoral, Jair mentiu sobre as vacinas contra a covid-19, afirmando que elas não têm comprovação científica. E comparou imunizantes à cloroquina, dizendo que ambos estão em "estado experimental".
"[Cloroquina e ivermectina] não têm comprovação científica. E eu pergunto: a vacina tem comprovação científica ou está em estado experimental ainda? Está experimental. Mentira: nem as vacinas estão em fase experimental (já tendo sido aprovadas), nem a cloroquina está (tendo sido rejeitada pela comunidade científica para a covid)."
Outro exemplo é o fato de a Secom, a Secretaria de Comunicação Social do governo federal, ter contratado influenciadores para defender o "atendimento precoce", ou seja, a adoção de remédios inúteis para a doença como a cloroquina e a ivermectina. Ou a campanha da própria Secom, proibida pela Justiça, em março do ano passado, com peças batizadas de "O Brasil não pode parar", que tentava mandar trabalhadores à rua em meio à primeira onda de covid-19, repetindo a fracassada campanha d prefeitura de Milão - que levou ao aumento no número de casos por lá.
Faz parte dessa campanha o uso de quaisquer estruturas públicas pelo presidente da República para transmitir ideias negacionistas, menosprezando a gravidade da doença. Vale lembrar que Bolsonaro tachou a covid-19 de "resfriadinho" e "gripezinha" em um pronunciamento oficial de rádio e TV.
Amparado pelas avaliações do "ministro paralelo" da Saúde, Bolsonaro preferiu apostar no incentivo à rápida contaminação da população em busca da fantasia da imunidade de rebanho. Ela não veio, mas a fatura dessa estratégia tresloucada chegou: 528 mil mortos - e subindo.
Não é que ele simplesmente se omitiu. Se fosse assim, o prejuízo humano e econômico teria sido menor. Ele deliberadamente agiu pela infecção ampla da população, fazendo campanha contra as vacinas e em nome do negacionismo.
Vemos agora, pelas descobertas da CPI da Covid, que o negacionismo quanto aos imunizantes também pode ter sido um bom negócio para aliados do presidente através de cambalachos realizados visando à compra, a toque de caixa, da indiana Covaxin, apesar de ser mais cara do que a da Pfizer.
Questionado pela comissão se as denúncias de irregularidades feitas a ele pelo deputado federal Luiz Miranda (DEM-DF) sobre a aquisição da vacina eram verdade e o que ele fez a partir disso, Bolsonaro respondeu em sua live semanal, nesta quinta: "caguei".
Infelizmente, sabemos disso. E foi sobre todos nós.