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Leonardo Sakamoto

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Por reeleição de Bolsonaro, governo nos afunda em crises elétrica e hídrica

Lâmpada, energia elétrica, conta de luz - Getty Images/iStock
Lâmpada, energia elétrica, conta de luz Imagem: Getty Images/iStock

Colunista do UOL

25/08/2021 21h13

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Por evitar adotar um racionamento de energia elétrica, o que causaria impacto à campanha de reeleição de Jair Bolsonaro, o Brasil vai correr o risco de ficar sem energia e sem água para consumo humano em algumas regiões. Ou seja, podemos viver um duro racionamento duplo.

A avaliação foi compartilhada à coluna por membros da área técnica do governo federal. Relatam que a gestão Bolsonaro está "completamente perdida" sobre o tema.

Uma mostra disso é o decreto presidencial publicado, nesta quarta (25), com medidas para reduzir o consumo de energia nos prédios públicos federais em até 20%. "A esta altura do campeonato, economizar o ar condicionado da Esplanada dos Ministérios não vai salvar o país", ironizou um dos técnicos à coluna.

Também nesta quarta, o ministro das Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque, informou que serão dados descontos na conta de luz para consumidores que, voluntariamente, economizarem energia.

O que também foi recebido como piada pelos servidores públicos, uma vez que o Brasil está no patamar mais alto de cobrança por quilowatt-hora (kWh) consumido, a bandeira vermelha 2, e já se discute criar mais uma faixa de preço.

Não só: os técnicos afirmam que se o período chuvoso não tiver proporções de um dilúvio bíblico, a energia continuará cara nos próximos anos.

Vale lembrar que a alta no seu preço já é um dos principais vilões da inflação, o que afeta principalmente os mais pobres - que, assim como nossas hidrelétricas, não têm reservas disponíveis.

Como já discutido nesta coluna, a crise elétrica não é consequência de fenômenos naturais periódicos, como a "La Niña", mas de um grave erro na operação do sistema, que negligenciou os efeitos das mudanças climáticas nas vazões dos rios brasileiros.

Com isso, em um ano particularmente seco como 2021, simplesmente não há reserva hídrica suficiente para atravessar com tranquilidade o período de seca sazonal. Se os reservatórios não tivessem sido mantidos tão baixos por tantos anos, não estaríamos passando pela crise atual. Agora, o governo reduz a vazão dos rios para suportar o período seco, mas o momento já demandaria medidas mais drásticas.

As mudanças climáticas associadas ao aquecimento global já estão alterando o regime hídrico no Brasil e criando problemas que não se limitam à geração hidrelétrica, uma vez que a gestão dos reservatórios tem impacto nos usos múltiplos da água - como consumo humano, animal, agricultura.

O governo está apostando em medidas que atingem o bolso dos consumidores, esperando o tal dilúvio e evitando um racionamento. Se der sorte, tudo volta ao normal.

Mas se chuvas fortes não vierem, com térmicas funcionando no talo e reservatórios chegando ao seu volume morto, podemos ter o pior dos mundos: seca e escuridão.