Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Bolsonaro quer vingança por Anvisa liberar vacina para proteger crianças
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Chegou a notícia que muitos pais e mães, pelo menos os responsáveis, esperavam ansiosamente: a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) liberou, nesta quinta (16), a vacina da Pfizer contra a covid-19 para crianças de cinco a 11 anos. Quem não gostou nada foi Jair Bolsonaro, que defende a liberdade do coronavírus no Brasil.
Tanto que prometeu, em live, divulgar a seus apoiadores os nomes dos diretores da agência que participaram da liberação do imunizante. Isso não é uma ação de transparência, mas uma intimidação visando ao assédio e à violência. Vale lembrar que a Anvisa recebeu ameaças de morte de pessoas contrárias à vacinação de crianças enquanto analisava os dados da Pfizer.
"Eu pedi, extraoficialmente, o nome das pessoas que aprovaram a vacina para crianças a partir de cinco anos, queremos divulgar o nome dessas pessoas para que todo mundo tome conhecimento quem são essas pessoas e obviamente forme seu juízo", afirmou Jair. Forme o seu juízo de quê? De como atacá-las?
Isso é vingança contra a Anvisa, que cumpriu o seu papel de colocar a ciência e a saúde pública acima dos desejos do presidente da República. Para uma pessoa insegura e autoritária como Bolsonaro, deve ter ficado um gosto amargo na boca ao constatar, mais uma vez, que sua vontade nem sempre é lei no governo federal. O que nos lembrar que, apesar dos sequestros de instituições por Jair, algumas ainda funcionam.
Apesar de permanecerem assintomáticas ou desenvolverem versões mais brandas da covid-19, crianças não são imunes e serão protegidas pela vacina. Mais do que isso: vão ajudar a reduzir a transmissão do vírus uma vez que os imunizantes reduzem a chance de transmitir a doença.
O presidente, para excitar sua base, tanto os terraplanistas biológicos quanto aqueles que defendem a liberdade de contaminar e ser contaminado, tem defendido o direito a não se imunizar como se esse absurdo fosse uma defesa da dignidade humana. A saúde pública? Dane-se.
Esta sendo assim com as crianças da mesma forma que foi com os adolescentes.
Em setembro, o Dr. Jair Bolsonaro, especialista em imunologia pela Universidade do WhatsApp, já havia pressionado o ministro da Saúde a interromper a vacinação de jovens entre 12 e 18 anos. Como demonstra mais amor pelo cargo do que pela medicina, Marcelo Queiroga o atendeu. O STF, contudo, garantiu que ela continuasse.
Bolsonaro baseou sua posição sobre a suspensão da vacinação de adolescentes em declarações sobre efeitos colaterais que circulam nas redes sociais dos seus apoiadores que defendem remédios contra vermes e ozônio no reto para tratar a covid-19. Já Queiroga citou a morte de um jovem em São Paulo, mesmo sem saber a causa do óbito, disseminando um receio desnecessário e irresponsável.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) não contraindica vacinas em adolescentes, ao contrário do que chegou a dizer Bolsonaro, apenas não recomenda como prioridade por outro motivo. Ela defende que antes de vacinar grupos menos vulneráveis, o imunizante chegue a quem mais precise, dentro e fora dos países. Especialistas apontam que os riscos de não vacinar os mais jovens é maior do que os efeitos colaterais.
As pesquisas de intenção de voto tanto do Ipec (ex-Ibope) quanto do Datafolha confirmam que o presidente, apesar de estar distante de Lula, segue com uma base sólida na casa dos vinte e poucos por cento. Não é muito, mas talvez seja o suficiente para levá-lo ao segundo turno.
Esse grupo envolve os seus seguidores mais fiéis e os sócios de sua gestão, grupo para quem governou e com quem se comunicou nos últimos três anos. É esse grupo que ele atende com comportamentos negacionistas como atacar a imunização de crianças, rifando a saúde de um povo em nome de sua reeleição.
Em tempo: na live desta quinta, ele voltou a dizer que a vacina é experimental, o que não é verdade. Experimental é seu governo.