Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Botijão sobe 16% e ultrapassa 3ª via como problema eleitoral de Bolsonaro
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
O aumento no gás de cozinha, que já levou o botijão de 13 kg a registrar um surpreendente preço de R$ 150, é um adversário mais temido pela campanha de Jair Bolsonaro (PL) à reeleição do que qualquer candidato da terceira via.
Enquanto nomes como Ciro Gomes (PDT) e Sergio Moro (Podemos) contam com 8% e João Doria (PSDB) tem 3%, de acordo com a última pesquisa Ipespe, o aumento de 16,1% no gás de cozinha nas distribuidoras tem potencial de impedir o crescimento do presidente entre os mais pobres, tirando o seu sono.
Só o aumento no valor do Auxílio Gás não será o suficiente para amenizar o tranco - o benefício corresponde a 50% da média do preço nacional de referência do botijão. E com a inflação subindo, a prioridade para qualquer cascalho que entra na conta dos mais pobres são os alimentos.
Desconfio que cada vez que alguém acenda lenha para cozinhar para os filhos por falta de dinheiro para o gás, o presidente perde um eleitor.
A economia tem mais potencial de tirar votos de Jair do que a pandemia, e ele sabe disso. Não que mais de 655 mil mortos possam ser esquecidos, mas o próprio Jair já fez esse cálculo macabro, considerando que 0,3% de toda população brasileira morta por covid-19 pesa menos no grosso do eleitorado do que os 10,54% de IPCA nos últimos 12 meses.
O mesmo levantamento do Ipespe apontou que 72% da população acreditam que os preços continuarão subindo nos próximos meses, frente a 63% que apostavam na mesma coisa um mês atrás. O pessimismo vai aumentando diante da constatação da inflação como algo que veio para ficar, corroendo o poder de compra de salários (o rendimento médio caiu 11% no último ano) e o Auxílio Brasil de R$ 400.
O presidente e apoiadores dizem que o mundo inteiro sofre com inflação por conta da guerra à covid-19 e da guerra na Ucrânia. Sim, a mas a situação por aqui tem o componente Bolsonaro, que piora tudo. Esse fator abriu a matraca no ano passado para atacar instituições, gerando incertezas e elevando o dólar. Também fez uma péssima gestão hídrica, piorando o aumento no preço da energia.
Sem contar que o presidente estendeu a pandemia através de uma sabotagem sistemática dos protocolos de saúde e da vacinação, não produziu uma política decente de geração de empregos e nem uma nova política para combustíveis.
Ao focar na degradação da situação econômica, lembrando que a situação é culpa das ações e inações do presidente e de seu governo, a oposição acerta em algo que ele não poderá se esquivar. Com exceção dos seus seguidores mais fanáticos, o resto da população tende a ver a economia como uma questão federal.
Jair gasta mais tempo se justificando quanto à gasolina, o diesel e o gás de cozinha do que sobre os mortos da covid-19. Ser chamado de "genocida" não o assusta. Taxá-lo de "Bolsocaro", sim.