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Montado em cavalo branco, Bolsonaro cumpre uma profecia do Apocalipse no RN
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Jair Bolsonaro chegou a um evento de sua campanha eleitoral, em Parnamirim (RN), nesta quarta (30), montado em um cavalo branco. E, em seu comício a potiguares, insistiu no discurso messiânico de que está travando uma luta do "bem contra o mal". Teve até oração.
O líder de uma igreja evangélica, que discorda da visão de mundo do presidente da República, comentou com a coluna que um observador mais atento enxergará na cena uma versão inglória do capítulo 6 do livro do Apocalipse. Para quem desconhece, esse trecho da Bíblia cristã trata dos famosos quatro cavaleiros.
Cavalgando um corcel branco, um falso salvador aparece no momento em que a humanidade vive um período difícil. Prometendo uma falsa paz, com soluções fáceis para os problemas, consegue iludir os povos. Ele foi seguido por um cavalo vermelho (guerra), outro preto (fome) e mais um amarelo (morte), inclusive e textualmente, morte pela peste.
Em nosso caso, primeiro veio a peste (quase 660 mil mortos pela covid-19), e junto com ela e fome (imagens de pessoas revirando o lixo se tornaram cotidianas, ainda mais quando o governo suspendeu o auxílio emergencial em dezembro de 2020). Para além da tragédia na Ucrânia, a guerra nas periferias das grandes cidades foi mais violenta com negros e pobres na pandemia.
E, agora, Jair, num cavalo branco, dizendo ser o "bem". Em uma mão, carregava a inflação dos combustíveis (o botijão na região chega perto de R$ 130, o que leva famílias a substituírem gás por lenha) e, na outra, a inflação dos alimentos - a cesta básica subiu 20% em 12 meses em Natal, segundo o Dieese.
Na Bíblia, o sujeito nesse cavalo branco segura um arco. Já Bolsonaro não se fez de rogado e, mais uma vez, disparou flechas contra o Poder Judiciário e o Tribunal Superior Eleitoral ao colocar em dúvida a lisura do sistema eletrônico de votação.
"Podem ter certeza que, por ocasião das eleições de 2022, os votos serão contados no Brasil. Não serão dois ou três que decidirão como serão contados esses votos", afirmou, socando os brasileiros dentro de um longo Dia da Marmota, sem a graça de Bill Murray. Até porque quem decidiu como serão contados foi o Congresso Nacional, que afastou o voto impresso, fetiche do presidente.
E foi além: "Defendemos a democracia, a liberdade e tudo faremos até com sacrifício da nossa vida para que esses direitos sejam relevantes e cumpridos pelo nosso país". Detalhe: esses direitos já são efetivados. É o próprio Bolsonaro que coloca a democracia em risco com seu golpismo.
Ele gosta de aparecer montado a cavalo sempre que pode. Mais do que uma associação militar, há uma simbologia de virilidade e juventude que deseja passar. Faz sentido. Como não tem nenhum projeto "100% Jair" que tenha melhorado a vida dos potiguares, mas apenas recauchutagens de ideias apresentadas em governos anteriores, investe no marketing vazio, afirmando que está disposto a sacrificar sua vida em nome de uma mentira.
Acredita que messianismo enche barriga através da gastura.