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Bolsonaro diz que povo clama por Silveira, mas Brasil pede inflação menor
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Ao justificar o perdão concedido a Daniel "Surra de Gato Morto" Silveira, Jair Bolsonaro (PL) afirmou que a sociedade se encontrava "em legítima comoção" por conta da condenação do deputado pelo STF. Não é a primeira vez que o presidente resume a população apenas a quem concorda com ele. Mas, agora, ele usou a falácia como justificativa para um decreto.
A mentira continuou a ecoar no dia seguinte, não só pelas redes sociais e aplicativos de mensagens bolsonaristas, que estão exultantes pela ação do "mito" frente aos "demônios de toga", mas também entre os políticos aliados no Congresso Nacional e fora dele.
Em comício eleitoral de Bolsonaro, em Porto Seguro (BA), aproveitando os 522 anos da invasão portuguesa, o prefeito Jânio Natal (PL) afirmou que o presidente "deu um presente a Porto Seguro e ao povo brasileiro que foi o indulto do nosso Daniel Silveira". Lembrando que o "nosso" Daniel Silveira atacou o Estado Democrático de Direito e ameaçou ministros do STF.
O prefeito foi além e disse ao presidente: "Todo o povo brasileiro comemorou o seu ato contra aqueles covardes, que dizem que representam o nosso Judiciário. É uma vergonha que nós temos em nosso país, mas com sua reeleição, nós vamos dar o troco". Natal pediu votos a Bolsonaro, o que é campanha antecipada e ilegal. Mas, considerando tudo o que disse, isso era apenas a cereja do bolo.
Com o decreto, Bolsonaro excitou parcela de seguidores de extrema direita e ultraconservadores, além de parte dos militares e policiais, e aprofundou a crise com o Judiciário, mas não entregou respostas à maioria da população, que aguarda do seu governo uma redução nos preços.
De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, a inflação da cenoura nos últimos 12 meses foi de 166,17%, seguida pela do tomate (94,55%) do pimentão (80,44%), do melão (68,95%), da melancia (66,42%), do repolho (64,79%), do mamão (54,95%), da abobrinha (44,99%) e do alface (38,92%).
Somando isso à alta dos preços do óleo de soja, do gás de cozinha, da gasolina, da energia elétrica, do aluguel, do café, temos insatisfação popular que não se resolve com Auxílio Brasil ou adiantamento do FGTS. Há dezenas de milhões que ganham até dois salários mínimos que não se interessam se Silveira é um criminoso ou um mártir, desde que o governo garanta um mínimo de dignidade à população - o que não está rolando.
Bolsonaro tenta convencer a sociedade de que o Brasil vive o risco de se tornar uma ditadura caso ele não seja diligente para impedir instituições como o STF e o TSE de censurarem a tudo e a todos - os fatos mostram, na verdade, que o presidente quer ter o direito de atacar direitos sem ser molestado, mas isso é outra história.
As pesquisas de opinião mostram, contudo, que a maioria dos brasileiros diz que a economia, o desemprego e a inflação são os grandes problemas nacionais, não mentiras sobre a falta de liberdade de expressão.
Por exemplo, pesquisa Ipespe, divulgada nesta sexta (22), aponta que 70% da população consideram que os preços dos produtos aumentaram muito nos últimos 12 meses e 25% avaliam que eles aumentaram. Só 3% dizem que eles ficaram iguais e 1%, que eles diminuíram. Enquanto isso, 43% acreditam que eles vão aumentar, 20% que vão aumentar muito e 20% que ficarão como estão, ou seja, em um patamar alto nos próximos meses.
No dia 16 de junho de 2020, Jair Bolsonaro respondeu com uma sequência de tuítes às ações da Polícia Federal que prenderam membros do grupo armado de extrema direita "300 do Brasil" e que quebraram sigilos bancários de seus aliados e realizaram busca e apreensão como parte do inquérito do STF que investiga o financiamento de manifestações contra a democracia.
Escreveu que "nada é mais autoritário do que atentar contra a liberdade do seu próprio povo", tentando convencer que a prisão de seus aliados em meio ao processo no STF era um ataque aos brasileiros como um todo. Uma bobagem ofensiva, até porque o povo não ameaça com tochas ou ataca com fogos de artifício o Supremo Tribunal Federal.
Tampouco gasta seu tempo produzindo fake news ou ameaça um ministro com uma surra de gato morto como fez Daniel Silveira. Isso quem tem feito, com maestria, são os seus.
O presidente adoraria que as massas o carregassem, como ocorreu com outros líderes populistas, mas tem que se contentar com esse grupinho - que ele tenta fazer parecer que somos todos nós.
Ele trata o Brasil como esse naco, ou melhor, governa para esse naco e diz que está governando para o Brasil. E o restante que não repete o que ele quer ouvir? É um pacote de desinformados, massa de manobra ou inimigos da nação. Ou estão com ele ou contra ele, não há mediação possível.
Se ele tiver sucesso na estratégia, após outubro começará a campanha pelo "ame-o ou deixe-o".