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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Em nota confusa, Exército dá a entender que endossa críticas às urnas

Jair Bolsonaro na cerimônia de transmissão de cargo a Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira no Ministério da Defesa - Alan Santos/Presidência da República
Jair Bolsonaro na cerimônia de transmissão de cargo a Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira no Ministério da Defesa Imagem: Alan Santos/Presidência da República

Colunista do UOL

21/07/2022 15h16

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O Exército deu a entender que endossa as críticas do presidente Jair Bolsonaro (PL) às urnas eletrônicas ao divulgar uma confusa nota à imprensa, nesta quinta (21), através de seu Centro de Comunicação Social.

O comunicado atacou um texto do jornalista Valdo Cruz, veiculado no portal G1. Ele havia relatado que militares do Alto Comando entraram em contato com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para informar que não endossam as tentativas do presidente de desacreditar o sistema eletrônico de votação.

Nele, o Exército "ratifica o respeito de seus integrantes à hierarquia e à disciplina, garantindo que a coesão entre os militares é uma característica inalienável da Força Terrestre". Com isso, sugere que as posições de seus superiores hierárquicos, ou seja, do ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, e do presidente da República, são também as posições da tropa.

Adotando uma prática bolsonarista, de chamar informação do qual discorda de "fake news", a resposta do Exército também tacha a notícia de "desinformação" e diz que ela "parece buscar apenas a discórdia e a cisão entre os militares da ativa e o Ministro da Defesa", contribuindo para a "instabilidade entre as instituições e, consequentemente, entre os brasileiros".

A nota veio a público após as repercussões negativas da palestra que o presidente Jair Bolsonaro ministrou a embaixadores, nesta segunda (18), no Palácio do Planalto. Na ocasião, ele atacou o sistema de votação e fez ameaças às eleições, causando indignação no país e gerando manifestações internacionais, como a do governo dos Estados Unidos.

A colunista do UOL Carla Araújo destacou que os comandantes do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, da Marinha, almirante-de-esquadra Almir Garnier Santos, e da Aeronáutica, tenente-brigadeiro-do-ar Carlos de Almeida Baptista Junior, não estiveram na palestra de teor golpista do presidente aos embaixadores.

De acordo com seu texto, militares da ativa e da reserva afirmaram que a ausência dos comandantes sinalizaria que as Forças Armadas não querem se atrelar institucionalmente a esse discurso.

A coluna recebeu informações de militares tanto no Ministério da Defesa quanto do Comando do Exército e da Marinha apontando que há uma insatisfação com o ministro Paulo Sérgio Nogueira por estar empurrando as corporações no sentido de serem linha auxiliar de comportamentos antidemocráticos do presidente. Essas críticas, que chegaram à imprensa, irritaram o general, que quer silêncio na caserna.

No Comando do Exército, as fontes dizem que a nota no site tem digitais de pressão da Defesa para mostrar que a cúpula da força terrestre está alinhada ao ministro-general.

De fato, há nas forças quem apoie incondicionalmente a cruzada do presidente Bolsonaro contra as urnas, principalmente entre nomes da Marinha. E há também, segundo informações de fontes no Exército, quem não concorde com os ataques, mas critica o TSE por não seguir as sugestões enviadas pelos militares sobre o sistema eletrônico de votação.

O tribunal, por outro lado, afirma que levou em conta algumas propostas das Forças Armadas e outras, não.

Jair Bolsonaro vem criticando o sistema eletrônico de votação desde a campanha eleitoral de 2018, quando afirmou que ganhou no primeiro turno, sem provas. Nos últimos dois anos, intensificou os ataques, alegando, também sem provas, que o sistema pode ser fraudado e mentindo sobre a falta de auditoria e de transparência.

Transformou, com isso, o Tribunal Superior Eleitoral e seus ministros em inimigos. E deixou claro que pode não reconhecer o resultado das urnas.

Bolsonaro tem usado o Ministério da Defesa como parte de sua estratégia. Em audiência da Comissão de Fiscalização do Senado, no dia 14 de julho, o general Paulo Sérgio Nogueira levou o coronel Marcelo Nogueira de Souza, que colocou em dúvida a capacidade do TSE de evitar ataques internos.