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Leonardo Sakamoto

REPORTAGEM

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Deputado que chamou Guedes de 'tchutchuca' diz que Bolsonaro passou recibo

Evaristo Sá/AFP
Imagem: Evaristo Sá/AFP

Colunista do UOL

20/08/2022 11h17

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Após ser chamado de "tchutchuca do centrão", nesta quinta (18), Bolsonaro partiu para a cima do youtuber Wilker Leão e tentou tomar o celular com o qual gravava um vídeo na porta do Palácio do Alvorada. A cena viralizou e "tchutchuca" voltou a ser um dos termos mais citados nas redes sociais

Contudo, não foi a primeira vez que o funk do Bonde do Tigrão é usado para criticar o atual governo. Durante audiência na Comissão de Constituição e Justiça que discutia a Reforma da Previdência, em abril de 2019, o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR) disse ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que ele era "tigrão" com os aposentados e trabalhadores e "tchutchuca" com os ricos e privilegiados.

Enfurecido, Guedes respondeu que "tchutchuca é a mãe, tchutchuca é a avó!".

Em entrevista à coluna, Zeca Dirceu contou que está satisfeito de ver "tchutchuca" novamente no debate político, correndo as redes sociais e aplicativos de mensagens.

"Viraliza e dá repercussão porque é popular, porque as pessoas têm facilidade de compreender, é engraçado, cômico. O uso de termos da música e de sacadas populares ajuda a chamar a atenção de quem não gosta de política", avalia.

Para Zeca, que está em seu terceiro mandato como deputado federal e é filho do ex-ministro José Dirceu, tanto Paulo Guedes quanto o Bolsonaro são merecedores do termo.

"O governo como um todo é merecedor do termo porque todos eles são muito suaves quando é para lidar com o centrão, com banqueiros, com quem vive da especulação financeira, os fraudadores e os sonegadores, as grandes corporações internacionais. Com eles, nunca mexem", diz.

"Mas são muito duros quando é para lidar com o povo. Interromperam o reajuste anual do salário mínimo acima da inflação, sangraram o bolso dos aposentados com a Reforma da Previdência e tiveram uma política econômica desastrada, que explodiu o custo de vida. Isso é ser tigrão com o povo e o pequeno empresário e ser tchutchuca do centrão e dos banqueiros", completa.

Reação de Bolsonaro é reflexo de estar atrás nas pesquisas, diz deputado

O deputado considera que a forma como Guedes e Bolsonaro reagiram à provocação "mostra que são totalmente despreparados, desequilibrados, agem de forma insana, não aceitam críticas, divergências, nem o contraditório".

Considera que isso é sintoma de um "governo autoritário, que tenta calar jornalistas, órgãos de imprensa e a oposição".

Ao comparar os dois casos, contudo, Zeca Dirceu ressalta que há uma diferença entre o do ministro e o do presidente.

"Bolsonaro partiu para a agressão física e isso tem a ver com o momento das pesquisas. Ele deve ter a percepção de que Lula vai ganhar a eleição e no primeiro turno. É percepção de gente que sabe que a sua hora vai chegar", avalia.

O deputado considera que, por conta da campanha que o presidente fez contra as vacinas contra a covid-19 e por sua demora em comprar imunizantes para proteger a população, milhares morreram.

"Ele sabe disso e tem medo. Ou seja, para ele, não significa só uma derrota eleitoral, ele vai ter que acertar suas contas com a Justiça, provavelmente vai para a cadeia porque teve uma atitude genocida", afirma.

Primeiro registro do uso político do 'tchutchuca' é do período FHC

Apesar de o termo ter viralizado com Zeca Dirceu, em 2019, ele já foi empregado outras vezes no debate político. Em 2012, o então deputado federal Fernando Francischini cutucou o seu colega Odair Cunha dizendo que "quando o assunto é o Agnelo [Queiroz, então governador petista do DF], o relator é uma 'tchutchuca'. Quando o assunto é o [então governador de Goiás, Marconi] Perillo, o relator vira 'tigrão'".

O primeiro registro que se tem do uso de "tigrão" e "tchutchuca" na política, contudo, é do então senador Roberto Requião, hoje candidato ao governo do Paraná pelo PT. Em 2001, ao criticar o então tucano Álvaro Dias, hoje no Podemos, por demorar a assinar uma CPI contra o governo FHC, ele disse que havia senadores que eram tigrões no Paraná, mas tchutchucas em Brasília.

Coincidentemente, Zeca Dirceu, Fernando Francischini e Roberto Requião têm carreiras políticas no Paraná. Já Wilker Leão faz sucesso no Distrito Federal.