Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Deputado bolsonarista que agrediu Vera Magalhães precisa perder o mandato
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
A Assembleia Legislativa, que cassou o mandato de Arthur do Val por conta de comentários misóginos sobre refugiadas ucranianas, precisa dar a mesma resposta ao caso envolvendo o deputado Douglas Garcia (Republicanos) - que agrediu Vera Magalhães no debate dos candidatos ao governo de São Paulo, realizado, nesta terça (13), por UOL, Folha de S.Paulo e TV Cultura.
Ainda depõe contra Garcia o agravante de ter agido de forma premeditada, como indica uma postagem sua antes do debate, questionando se a jornalista estaria presente, mostrando que ele já tinha a intenção de agredi-la.
Copiando os ataques que Jair Bolsonaro fez contra Vera Magalhães durante o debate presidencial na TV Bandeirantes, no dia 28 de agosto, Douglas Garcia aproveitou um momento em que ela estava sentada, escrevendo, para começar a gravar e atacá-la.
Gritou que ela é uma vergonha do jornalismo brasileiro, contou mentiras sobre sua remuneração, entre outros absurdos, em uma truculência insistente e prolongada.
Quem estava presente no auditório ficou chocado não apenas pela cena grotesca, mas pela total falta de preocupação do deputado com o decoro relativo ao cargo que ocupa. Como se tivesse a certeza de que pode agredir qualquer cidadão e se safar afirmando que é liberdade de expressão, tal como faz o presidente da República.
Determinado a atacá-la, ele se desvencilhou de tentativas de retirá-lo do local por seguranças. Só foi interrompido quando o diretor de jornalismo da TV Cultura, Leão Serva, num ato de pura sensatez, tomou o celular de sua mão e atirou longe. Diante de um jornalista homem, o deputado, claro, nada fez. Ao fim, foi expulso do recinto.
O deputado foi ao evento como convidado da campanha de Tarcísio de Freitas e o rosto e o número do ex-ministro de Bolsonaro aparecem em santinhos do deputado, que concorre a um mandato de deputado federal. Tarcísio disse ao jornalista Thiago Herdy, do UOL, que não permitirá mais que Douglas Garcia o acompanhe em sabatinas e debates eleitorais da campanha de 2022. Para não impactar sua campanha, nem a do presidente, vai ter que entregar mais do que isso.
Além dele, Fernando Haddad e Rodrigo Garcia repudiaram a agressão. Vera teve que sair escoltada do Memorial da América Latina, onde ocorreu o debate.
Quem acompanha essa coluna sabe que tomo muito cuidado em usar o termo fascista para designar certos comportamentos violentos da extrema direita para evitar banalizar o termo. Mas eu estava lá e posso afirmar que a violência e a intimidação do deputado repetiram as piores técnicas do fascismo.
Após o caso ganhar as redes sociais, o deputado disse de forma covarde que "apenas a questionei educadamente" e que irá processar todos os que afirmarem que a sua agressão contra a jornalista foi uma agressão.
A agressão, desta terça, contra Vera Magalhães é consequência direta do ataque realizado por Bolsonaro no dia 28. As ameaças contra ela se intensificaram desde então, chegando ao absurdo do seu rosto estampar cartazes no megacomício eleitoral do presidente na praia de Copacabana.
Bolsonaro foi instado a baixar a fervura da violência de seus seguidores, mas, ao invés disso, tem colocado mais lenha na caldeira. Se não quiser fazer isso pela decência e pela legalidade, poderia ao menos fazer em nome de votos, uma vez que está muito atrás de Lula na intenção de voto feminino. Mais do que isso: de acordo com o Datafolha, 51% dos eleitores acreditam que Bolsonaro é o candidato que mais ataca as mulheres.
Mas ele não é o único responsável. Se não abrir um processo de cassação contra o deputado, que atacou uma jornalista para conseguir votos entre parcela da população que aplaude a violência, o parlamento paulista passará a mensagem de que apoia a agressão a mulheres e não dá a mínima para a liberdade de imprensa.
Com a palavra, o Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo.