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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Vale-tudo de Bolsonaro inspira patrões a comprar votos de seus empregados

 O Antagonista
Imagem: O Antagonista

Colunista do UOL

21/10/2022 14h14

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Desde o início da campanha eleitoral, o governo Bolsonaro aumentou em R$ 21 bilhões o valor transferido para beneficiários de programas sociais. Enquanto isso, o Ministério Público do Trabalho registrou uma explosão de denúncias de assédio eleitoral por patrões: 903 envolvendo 750 empresas até esta quinta (21).

Como o presidente da República tenta comprar votos dos trabalhadores usando a máquina pública e praticamente não é importunado por isso, empresários que são seus apoiadores sentem-se mais à vontade para tentar fazer o mesmo junto à sua esfera de influência, ou seja, seus empregados.

Reportagem de Amanda Rossi e Graciliano Rocha, do UOL, avaliou os desembolsos eleitoreiros do governo considerando mudanças na concessão de benefícios a partir de agosto.

Ou seja: o aumento temporário do Auxílio Brasil para R$ 600, a inclusão de mais três milhões de beneficiários, a bomba-relógio que é o empréstimo consignado do auxílio, o Auxílio Caminhoneiro, o Auxílio Taxista, o aumento no Auxílio Gás e o acrescido de beneficiário deste último, a antecipação na data de pagamentos de benefícios para antes do segundo turno. Além da redução do preço dos combustíveis baseada na retirada de financiamento de educação e saúde.

A maior parte das medidas foi possível graças à aprovação da chamada PEC da Compra de Votos, em que o Congresso Nacional levantou restrições a esses gastos durante as eleições, o que não era possível em governos passados.

O ambiente de vale-tudo político desta reta final de eleição ajuda empresários a agirem como coronéis, ameaçando empregados em troca de votos. Inclui ofertas de dinheiro e de vantagens, retenção de título de eleitor, obrigação de esconder câmeras para gravar a urna, tentativa de impedir o trabalhador de votar no domingo, dia 30, entre outra ações criativas.

As eleições de 2018 fecharam com 212 denuncias envolvendo 98 empresários junto ao MPT. Agora, faltando ainda dez dias para a votação, o total parcial já é quatro vezes maior.

Uma das mais abjetas formas de manipulação política é um empregador tentar empurrar o seu candidato de estimação para cima de seus empregados. Não importa se é uma megaempresa ou a padaria da esquina, isso representa uma situação desigual, em que um lado depende do serviço para sobreviver e o outro sabe disso e joga o medo a seu favor.

O grande número de denúncias de assédio eleitoral levou o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, a relembrar que isso é crime e que "não é possível que, em pleno século 21, se pretenda coagir o empregado em relação ao seu voto". Não é possível, mas está acontecendo. E, até agora, ninguém foi preso ainda por conta.

Mas, apesar disso, é importante ressaltar que, ao contrário do que acontece com as tentativas de compra de voto de Bolsonaro, o Ministério Público do Trabalho tem imposto o pagamento de indenizações por danos morais aos patrões que coagiram seus empregados a votar no presidente.

Compra de votos é prejudicada pela inflação da comida

Há duas batalhas sendo travadas pelos corações e mentes dos eleitores pobres. A campanha de Bolsonaro tem sido competente em fazer parecer que a principal é uma cruzada contra o demônio, personificado na figura do seu adversário. Mas o que pode, de fato, garantir uma virada a Jair é a sua batalha pela compra de votos.

Como esta coluna cansou de avisar a despeito dos incrédulos, o auxílio de R$ 600 traz sim benefícios eleitorais para Bolsonaro. Não é o pagamento do benefício que leva alguém a mudar de voto, mas a percepção de que houve uma melhoria coletiva em sua comunidade - o que pode ser gerado pelo auxílio no médio prazo.

Ao que tudo indica, o Datafolha começou a registrar esse processo. Entre os que recebem o benefício, Lula passou de 62% para 56% nas intenções de voto, enquanto Jair foi de 33% para 40%. Ao mesmo tempo, Lula oscilou de 58% para 57% entre quem ganha até dois salários mínimo e Bolsonaro foi de 36% para 37%.

A distância entre eles ainda é gigante nesses grupos, mas Bolsonaro não precisa virar o jogo, apenas roubar votos de seu adversário em quantidade suficiente para se eleger. Se vai conseguir ou não enganar o eleitorado, só o tempo vai dizer.

Por enquanto, um entrave em sua estratégia é que, apesar da queda no último mês, ainda vivemos a maior inflação nos alimentos registrada desde o Plano Real, com 9,54% acumulado de janeiro a setembro, segundo o IPCA do IBGE. Isso reduz o poder de compra dos benefícios e, por conseguinte, o seu potencial eleitoral.