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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro faz discurso de mau perdedor e deixa questão de adultos para Ciro

Colunista do UOL

01/11/2022 17h53

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Em seu primeiro pronunciamento após a derrota para Lula, nesta terça (1), Jair Bolsonaro tratou como otários os seus seguidores radicais que passaram os últimos dias trancando rodovias em atos que pedem um golpe militar para mantê-lo no poder. Ele que fomentou tudo isso, tirou o corpo fora, deixando seu povo nu ao vento.

Apesar de ter dito que os bloqueios são "fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral" e que "manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas", o presidente repudiou o "cerceamento do direito de ir e vir", exatamente o que os bloqueios causaram em todo o país. Ou seja, criticou o método adotado pelo bolsonarismo.

Pior do que isso: comparou os caminhoneiros com a esquerda, que, segundo ele, é quem cerceia o direito de ir e vir. Isso deve ter doído para os radicais de extrema direita que estão acampados nas rodovias desde domingo, esperando que Jair aparecesse resplandecente para agradecer o sacrifício.

Algumas horas antes do pronunciamento (que não reconheceu a derrota, não cumprimentou Lula e durou dois minutos), uma grande quantidade de material passou a ser distribuído em grupos bolsonaristas tentando passar pano para o que diria o presidente. "Se ele dizer (sic) para pararmos, ele quer que continuemos. Mas não pode dizer publicamente", afirma um dos cards que circula no WhatsApp.

Bolsonaro conta com um grupo de seguidores radicais, que esquece o que ele disse anteriormente com uma facilidade notável. Se ele ordenar que "pulem", eles perguntam "a que altura?" Isso foi demonstrado na Manobra Roberto Jefferson, quando em poucos minutos o aliado querido que atacou a tiros policiais federais virou um inimigo odioso após orientação central. Esse grupo pode se adaptar facilmente ao pronunciamento presidencial, aceitando as explicações que circulam pelas redes sociais.

Afinal, o que seria menos doloroso para eles? Acreditar que isso é mais uma estratégia de Bolsonaro em um grande plano para salvar o Brasil de satanistas pedófilos, bilionários comunistas, artistas de Hollywood e, claro, petistas em conluio com o TSE e o STF ou que o seu líder se acovardou, com medo de ser responsabilizado criminalmente pelos bloqueios de caminhoneiros?

Ao perceber que o trancamento de rodovias estava causando a ele problemas por conta da falta de alimentos e remédios que já se faz sentir, além do inferno à vida das pessoas, o núcleo bolsonarista passou a apoiar a realização de protestos em cidades, como é possível constatar nos mesmos grupos já citados. Diante da possibilidade de responsabilização criminal pelos bloqueios, o presidente renegou tudo o que havia pregado até agora. A democracia agradece a refugada de Jair.

Considerando a dificuldade de um golpe na prática, ele tenta criar uma narrativa para manter a influência sobre o seu rebanho a partir de primeiro de janeiro de 2023 - o que seria muito útil para dificultar uma prisão por um dos muitos crimes que ele cometeu. Ou mesmo para tentar voltar em 2026.

No final, Bolsonaro fez um pronunciamento de mau perdedor, de quem entrou nanico e saiu covarde do governo. Tão covarde que deixou a questão da transição de governo para o PT para os adultos, quer dizer, o seu ministro-chefe da Casa Civil e líder do centrão, Ciro Nogueira.