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Bolsonaro entrega um Brasil em que golpe e terror são parte do vocabulário
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Após a derrota para Lula, Bolsonaro desapareceu da vida pública, apesar de continuar recebendo R$ 30.934,70 para ser presidente até 31 de dezembro. Nesta reta final de seu governo, ele vem reaparecendo na imprensa apenas quando o assunto é o golpismo e o terrorismo perpetrados por seus seguidores, fomentados por seu aliados e que contam com a chancela do seu silêncio.
Jair nunca foi, de fato, um governante strictu senso, tendo priorizado à própria reeleição durante os quatro anos de seu mandato. Mas, desde o segundo turno, parou de dar declarações, mesmo toscas, absurdas ou sem sentido, sobre economia, educação, saúde, relações internacionais, agropecuária e indústria, segurança pública, entre outros temas, simplesmente porque abandonou a gestão.
Neste momento, está mais preocupado em garantir a manutenção de sua influência sobre os seus seguidores mais radicais no ano que vem, em buscar formas de atazanar a vida de Lula e em encontrar maneiras de evitar que seja processado e preso após deixar o poder por qualquer uma das razões que constam na imensa capivara que redigiu para si mesmo.
(Não significa que o seu governo acabou, ressalte-se. Nesta terça (13), por exemplo, ele vetou o projeto de lei que proíbe a construção de intervenções para afastar pessoas em situação de rua nas cidades brasileiras, conhecido como Lei Padre Júlio Lancelotti. Além disso, a fiscalização ambiental continua sucateada e praticamente proibida de atuar, gerando altas taxas de desmatamento. E a administração pública passa por uma pane seca após ele usar bilhões comprando votos.)
Seu nome reaparece nas manchetes quando o assunto são os atos golpistas executados por seus apoiadores, que acampam nas portas de quartéis ou bloqueiam rodovias. E, agora, também com as ações terroristas, como as dos bolsonaristas que tentaram invadir a sede da Polícia Federal, jogaram paus e pedras em agentes de segurança, deixaram carros e ônibus incendiados e espalharam o pânico entre a população de Brasília na noite desta segunda (12).
Supostamente, os baderneiros queriam libertar um indígena bolsonarista preso a pedido da Procuradoria-Geral da República, indo, claro, contra a lei. Na verdade, desejavam manifestar seu ódio contra a diplomação de Lula, ocorrida horas antes.
Apesar de a própria polícia apontar que seguidores do atual presidente estavam por trás dos ataques, apesar de vídeos deixarem claro que eles mesmos tinham orgulho dos ataques, aliados de Bolsonaro vendem a versão risível de que foram infiltrados de esquerda que proporcionaram as cenas de barbárie.
Isso demonstra um misto de cara de pau e covardia infantil, de quem suja a fralda e diz que o cheiro vem do amiguinho.
As provas que bolsonaristas dizem ter de tais infiltrados provavelmente têm a mesma credibilidade daquelas com as quais acusaram as urnas eletrônicas de fraude. Provas que têm como origem "vozes da própria cabeça". Servem para enganar os próprios bolsonaristas, mas não passam no psicotécnico. Até porque figuras como Roberto Jefferson e Carla Zambelli mostraram o caminho de como usar a violência para impor seu ponto de vista eleitoral.
Bolsonaro deve se manifestar, mais cedo ou mais tarde, para defender a tese absurda, porque é isso o que ele faz.
Mas a falta de repúdio desses atos, representado pelo silêncio do atual presidente, é um sinal de apoio a esse tipo de ação terrorista. Que merece ganhar tal alcunha e difere de outros protestos violentos porque tem como objetivo final um golpe de Estado, ou seja, são um ataque ao Estado democrático de direito.
Bolsonaro se satisfaz com o que está acontecendo e certamente gostaria de ver essas cenas se repetirem em São Paulo, no Rio, em Manaus, Florianópolis, Recife... Não bastasse deixar as contas públicas do país em caos no final do governo, quer o caos nas ruas para que Lula assuma um país em ruínas.
Pelo visto, ele, Jair, não se importa, desde que possa gargalhar sobre os escombros.